Mercado perde confiança nas estimativas de safra do USDA
13/12/2011 08:29:08



Os relatórios do governo americano sobre a safra de milho do país têm se tornado cada vez menos confiáveis, contribuindo para que os preços da commodity oscilem fortemente, como mostra uma análise feita pelo The Wall Street Journal.

Nos últimos dois anos, as previsões mensais do Departamento de Agricultura sobre quanto os produtores vão colher erraram o alvo mais do que em qualquer outro período de dois anos consecutivos nos últimos 15 anos, conforme a análise dos dados do governo feita pelo WSJ. As primeiras previsões para a safra deste ano também parecem ter sido equivocadas. O próximo relatório mensal deve ser divulgado sexta-feira.

Ao mesmo tempo, os relatórios periódicos sobre os estoques — projeções feitas pelo governo sobre a quantidade de milho estocada em silos e outros armazéns — também já trouxeram grandes surpresas. As mudanças médias mensais em estimativas de estoque entre maio e outubro, período crucial da temporada de produção, foram mais pronunciadas este ano do que em qualquer outro desde 1996, de acordo com a análise do WSJ.

Os relatórios de estoque têm tido grande impacto sobre os mercados. No dia 30 de setembro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA, na sigla em inglês, informou que o levantamento trimestral mostrava que os estoques de milho estavam 23% acima da estimativa prévia feita no mesmo mês. Os preços do milho caíram 6,3% no mercado futuro naquele dia, reduzindo em US$ 5 bilhões o valor do milho nos campos.

"Há hoje uma falta de confiança entre os produtores" nos dados do governo, diz Bill Christ, que colhe aproximadamente 2.500 toneladas de milho por ano em Matamora, no Estado americano de Illinois. "Será que eles não conseguem acertar?"

Representantes do USDA culpam a imprevisilidade do clima pelos recentes erros nas previsões. Eles dizem que os dados refletem o que está acontecendo num determinado momento e que mudam com base nas novas informações, por exemplo danos causados por ondas de calor ou mudanças no padrão de consumo.

"Quem vai participar desses mercados de commodities tem que entender que essas coisas estão sujeitas a mudanças", diz Gerald Bange, presidente do conselho do grupo do USDA que participa da elaboração dos dados.

Os EUA foram responsáveis por 38% da produção de milho no mundo em 2010, quando a safra doméstica estava avaliada em US$ 67 bilhões. A forte demanda dos compradores estrangeiros e a crescente indústria do etanol tornaram o mercado mais volátil. Jerry Norton, que faz o acompanhamento do milho para o USDA, diz que, como os estoques de milho estão apertados, "o mercado está muito mais sensível" a mudanças nos relatórios do ministério.

A Bolsa de Chicago já há muito tempo estabelece limites à volatilidade diária do preço do milho e de outras commodities no mercado futuro. Os preços do milho atingiram o limite diário básico 20 vezes desde o início de 2009, sendo que em oito dessas vezes, ou 40% do total, a volatilidade ocorreu no dia da divulgação do relatório do USDA, como mostra a análise de preços feita pelo WSJ. Entre 1996 e 2008, só 20% das oscilações fora do limite coincidiram com a divulgação de relatórios.

Como muitos produtores, Mike Yost, um ex-representante do USDA que hoje é sócio de um laticínio, acompanha os relatórios de perto. Em janeiro de 2010, o USDA previu uma safra recorde, provocando uma despencada nos preços. Yost concluiu que a safra recorde manteria baixos os preços do milho, então ele não se preocupou em fechar antecipamente o preço da ração animal.

Seis meses depois, o ministério informou que os estoques de milho estavam menores do que ele e muitos outros tinham antecipado, apesar da safra generosa. Os preços dispararam e o laticínio de Yost acabou tendo que pagar US$ 200.000 a mais pela ração animal. "Relaxamos com base nos números do governo", ele diz. "Existe algum erro na fórmula deles."

Críticos dos relatórios sustentam que o só clima não explica os dados equivocados, especialmente nos relatórios de estoque.

Darrel Good, professor da Universidade de Illinois, que já escreveu muito sobre os dados do USDA, diz que os dados do último relatório trimestral de estoque estavam incorretos — os números têm estado acima ou abaixo do volume total em estoque. "As coisas se tornaram caóticas em junho e setembro", diz ele. "Os dados acumulados simplesmente não fazem sentido."

Um porta-voz do USDA diz que a agência mantém os números.

Os dados do USDA definem as mais diversas decisões na economia agrícola e fora dela. Os produtores usam os números para avaliar quanto vale o milho deles e quando devem vendê-lo. Fazendeiros, produtores de etanol e empresas de alimentos prestam atenção aos dados quando fazem suas próprias compras de milho.

Muitos outros países também dependem do milho para ração animal, e alguns compradores internacionais seguem os relatórios. Apesar de todas as deficiências, os números de produção do USDA são considerados a melhor estimativa disponível sobre a agricultura americana.

Compradores e vendedores de milho dizem que a tarefa do ministério se tornou mais difícil nos últimos anos, devido à alta da demanda e da área plantada de milho nos EUA.

Este ano, os dados de estoques divulgados em 30 de junho vieram acima do esperado pelos analistas. Os preços do milho, que estavam em quase US$ 7 por bushel (24,4 quilos), despencaram para US$ 6,29 num só dia.

"O USDA superestimou a colheita, e nós acreditamos que foi por isso que vimos uma correção deste então", disse aos investidores Bill Lovette, presidente da Pilgrim's Pride, uma das maiores empresas de aves e compradora de ração animal do país, controlada pela JBS SA, que tem sede em São Paulo.

Yost, o produtor de Minnesota, que dirigiu o serviço de agricultura internacional do USDA de 2006 a 2009, diz que, se os dados do departamento fossem mais confiáveis. "eles serviriam melhor a toda à cadeia alimentar."

Fonte: Liam Pleven e Tom Mcginty / The Wall Street Journal


Guilherme Viana (MTb / MG 06566 JP)
Jornalista da Embrapa Milho e Sorgo
Tels: (31) 3027-1272 / (31) 9733-4373
gfviana@cnpms.embrapa.br

 

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