ANÁLISE-Preço do milho depende de demanda racionada, não da seca
21/08/2012 11:18:14



CHICAGO, 15 Ago (Reuters) - No fim das contas, prever o dano às lavouras norte-americanas de milho e soja por causa da pior seca em meio século pode ter sido a parte fácil.

Com as plantas maduras e a colheita prestes a começar, a maioria dos agentes do setor acredita que a demanda vai superar a oferta, possivelmente por ampla margem. Ou seja, a demanda terá de ser "racionada", como se diz no jargão comercial.

O que está menos claro --e mais difícil de discernir agora do que antes-- é qual será o corte na produção de alimentos, rações e combustíveis por causa das restrições à compra de matérias-primas. O cálculo, seja para indústrias alimentícias, pecuaristas ou usinas de etanol, é complexo: será que o consumidor final pode arcar com o preço final? Será possível para as empresas manter a produção com grãos alternativos e mais baratos?

Para os agentes comerciais, a complexidade é ainda maior. A imprevisibilidade da seca não é nada em comparação aos caprichos do consumo por pecuaristas, exportadores, usineiros e outros usuários industriais que transformam o milho em coisas tão variadas quanto plásticos, adesivos, explosivos e produtos farmacêuticos.

Então, após dois meses de alta relativamente constante no preço dos grãos a cada dia em que o calor e a seca faziam os milharais murcharem um pouco mais, alguns operadores se preparam para uma temporada mais turbulenta, na qual os comerciantes tentarão intuir o ponto a partir do qual a demanda será racionada.

"A demanda ocorre em tantas categorias diferentes que é um pouco difícil confiar", disse Darrell Good, respeitado economista agrícola da Universidade de Illinois e uma grande autoridade nesse assunto.

"O processo mental é bastante claro, mas quantificar as coisas é bem subjetivo", disse ele.

Nos últimos dois meses, o Departamento de Agricultura dos EUA reduziu em 27 por cento sua previsão para a safra de milho no país em 2012/13, ao passo que a estimativa para o uso do produto em todos os segmentos foi revista para baixo em 19 por cento.

Em termos absolutos, isso significa uma redução de 4 bilhões de bushels na produção, e de 2,55 bilhões de bushels na demanda. Os estoques dos EUA no final do próximo verão do hemisfério norte devem cair para 650 milhões de bushels, menor nível em 17 anos.

Poucos operadores, no entanto, esperam que essas sejam as cifras definitivas, já que os técnicos do governo devem ajustá-las nos próximos meses.

MERCADO IMPREVISÍVEL

Teoricamente, o mistério da demanda deveria oferecer uma oportunidade para que agentes inteligentes lucrem com a volatilidade. Na prática, os indícios necessários para quantificar a demanda são tão disparatados e ínfimos que desafiam a compreensão.

As exportações norte-americanas são a parte fácil, uma vez que são esmiuçadas em boletins semanais. O restante depende da avaliação de dados sobre o abate de animais, a produção de ovos e o sacrifício de matrizes suínas; da antevisão das políticas do governo para o etanol; da busca de informações sobre até que ponto o trigo está substituindo o milho nas rações das criações de suínos.

A mudança no sentimento --de um pânico motivado pela escassez de oferta para um período de incerteza na demanda-- já está afetando os preços. Entre sexta e terça-feira, o milho com entrega em dezembro na bolsa de Chicago caiu 4,2 por cento, o que foi a maior queda em um período de três dias desde 13 de junho, dias antes de a seca começar a mobilizar os operadores.

De meados de junho a meados de julho, o milho entrou um período de alta regular, alternando vários dias de alta com outros de estabilidade. Raramente os preços fechavam na sua cotação máxima do dia. Eles nunca caiam mais do que dois dias consecutivos. Nas últimas semanas, porém, isso mudou.

"A primeira fase é unidirecional, onde o mercado entra um pouco no modo de pânico, tentando precificar o cotidiano climático", disse Malinda Goldsmith, sócia da corretora de produtos agrícolas Four Seasons Commodities.

"Aí você chega a um ponto em que a demanda precisa ser destruída. E o mercado fica mais turbulento. Aí você entra em um período muito volátil, que é onde estamos agora, em que temos preços fortemente mais altos, fortemente mais baixos."

"Agora", concluiu ela, "vai ficar mais imprevisível".

O crescente papel do etanol --cuja produção consome 40 por cento da safra de milho dos EUA-- introduziu um novo conjunto de variáveis. Mesmo deixando de lado a possibilidade de que o presidente Barack Obama venha a oferecer uma revogação das quotas de mistura do etanol à gasolina neste ano, os operadores do mercado de milho precisam levar em conta o preço da gasolina em Nova York, as exportações brasileiras de açúcar e os créditos de etanol.

"Realmente não tínhamos o etanol quando tivemos esse tipo de escassez produtiva no passado, então a forma como o setor vai reagir é uma novidade", disse Good. "Há muitas diferenças de opinião por aí sobre quanto milho será afinal consumido para o etanol."

O Departamento de Agricultura reduziu neste mês em 400 bilhões de bushels a sua previsão de uso do milho para a produção de etanol no ano comercial de 2012/13, estimando o volume total em 4,5 bilhões de bushels, menor nível em quatro anos. Nesse ritmo, a produção de etanol ficará aquém da exigência do governo para 2012, que é de 50 bilhões de litros.

Alguns analistas dizem que a estimativa é baixa demais. A alta do petróleo faz com que o etanol continue sendo mais barato que a gasolina em alguns lugares, estimulando as refinarias a maximizarem a mistura. Cortes na produção em mais de 20 usinas --principalmente instalações mais velhas e menos eficientes, localizadas longe do "cinturão do milho" nos EUA-- ajudam a ampliar a margem de lucro, de modo a incentivar a manutenção da produção.

"Acho que veremos um ritmo bastante agressivo no racionamento da demanda no setor exportador inicialmente, seguido pela ração, seguido pelo etanol", disse Shawn McCambridge, analista da Jefferies Bache.

(Reportagem adicional de Barani Krishnan em Nova York)

Copyright Thomson Reuters 2011

Fonte: R7, 15 de agosto

 

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