Produtores custeiam frete para ter milho subsidiado
24/09/2012 13:33:28



A regularização da entrega do milho para ração animal pode acontecer a partir desta mobilização no campo

Crateús - O milho do Programa de Vendas em Balcão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) está chegando com agilidade neste Município. O armazém já recebeu, somente nesta semana, três carretas e aguarda mais 12, que já estão a caminho. A solução veio dos próprios produtores, que estão animados com a nova realidade. Os quase dois mil produtores deste Município encontraram juntos uma alternativa viável para que o milho chegue aos seus rebanhos.

Unidos, pagam o valor de R$ 1,20 por saca à transportadora, complementando o valor pago pelo Governo Federal. Assim, o milho está chegando ao sertão por R$ 19,32 a saca de 60kg. A iniciativa é pioneira no Estado.

Desanimados com a constante falta do produto e informados pelo órgão de que as dificuldades se referiam ao transporte para os Estados do Nordeste, os produtores começaram a se reunir, mobilizados pelo Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR), debatendo soluções e alternativas. O desespero já batia à porta, com muitos deles tendo que se desfazer de animais para alimentar o restante do rebanho. Saber que o produto estava estocado no Centro-Oeste e chegava de forma insuficiente aqui desalentava ainda mais os criadores.

Não tinham condições de arcar com a despesa de alimentar os animais, comprando milho a R$ 45 a saca, ou até mais, comercializado no mercado.

Um deles viu na televisão sobre a mesma situação enfrentada por produtores de Pernambuco, que tomaram a iniciativa de solicitar aos governantes o pagamento da compensação do frete das transportadoras vencedoras das licitações da Conab. Decidiram "copiar" parte da ideia, já que não recorreram ao Governo do Estado. Eles mesmos estão arcando com o complemento do frete por quilo transportado.

"Sabíamos que os caminhoneiros não tinham interesse de vir para cá porque voltavam vazios. Preferiam circular por lá mesmo, então mantemos contato com a transportadora e acertamos a diferença. Articulamos os produtores. Fazemos o depósito adiantado com a colaboração de todos e logo o milho chega. A iniciativa compensa, pois, por um pequeno valor, resolvemos a situação", ressalta o produtor e secretário de políticas agrárias do STTR, Manoel Sobrinho.

Modelo

Joelson Morais reside no assentamento Lagoa e, até então, estava sustentando seu rebanho de caprinos, suínos e bovinos comprando milho no mercado. Já havia, inclusive, vendido o rebanho suíno para alimentar os demais. "Soube da atitude dos produtores por meio do Sindicato e aderi logo. Eu e toda a comunidade estamos animados", conta Morais.

De acordo com o coordenador do escritório da Conab em Crateús, Josemar Martins, que atende seis mil produtores na região, a articulação dos pecuaristas foi providencial. Ele acredita que se espalhará para outras regiões, como modelo. "Estou aliviado porque o fluxo de distribuição está acontecendo de forma regular, atendendo às necessidades dos criadores", afirma.

Na região Centro-Sul, os produtores rurais ainda não estão articulados para complementar o valor do frete pago pelo Governo Federal às empresas que ganharam a licitação realizada pela Conab para o transporte do milho de Mato Grosso e Goiás para o Ceará.

"Não houve uma mobilização nesse sentido, mas o que está ocorrendo em Crateús é uma ideia boa que queremos seguir", disse o presidente da Unidade de Pecuária de Iguatu (Upeci), Mairton Palácio. "Vamos obter informações e entrar em contato com a transportadora credenciada". Ele explicou que os criadores vivem um verdadeiro "momento de desespero" por causa da seca e escassez de milho e de pastagem. "Mesmo que o milho chegasse um pouco mais caro, dois, três reais, compensa para os produtores, porque o valor de mercado é bem superior".

O Programa de Vendas em Balcão da Conab, na modalidade especial, prevê a comercialização de três mil a 14 mil quilos de milho por produtor. O preço é variável. Até três mil quilos, a saca de 60 quilos custa R$ 18,12; entre mil quilos e sete mil quilos, é R$ 21,00; e entre sete mil quilos e 14 mil quilos, o preço é R$ 24,60. É um valor bem abaixo do mercado, cuja saca de 60 quilos custa cerca de R$ 45,00.

Uma média de 80 mil produtores no Ceará serão beneficiados com o milho. A distribuição teve início no dia 5 de junho. Desde então, vem ocorrendo de forma irregular, por problemas no transporte. Primeiro devido à greve dos caminhoneiros, depois problemas referentes ao valor baixo do frete, falta de caminhões nas empresas e o fato de os veículos voltarem vazios da região Nordeste.

Até o fechamento desta edição, a Conab não se manifestou sobre a iniciativa dos produtores no pagamento de parte do frete.

Mais informações:

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Crateús
(STTR) - (88) 3691.0208
Escritório da Conab
(88) 3691.0095

SILVANIA CLAUDINO
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste, 21 de setembro

 

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