Grãos: Turbulência põe commodities em xeque
25/3/2008 08:25:07



Na próxima segunda-feira, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apresentará seu primeiro levantamento de campo com as intenções de plantio de grãos no país na safra 2008/09. Referência de peso para as cotações internacionais de produtos como milho, trigo, soja e algodão, entre outros, o relatório ganha relevância adicional em um momento de forte pressão especulativa sobre esses mercados.

Com o nervosismo, que já deixou como saldo perdas pesadas na semana passada, cresceu entre analistas a sensação de que um novo patamar de preços, mais baixo do aquele que vinha sendo praticado, poderá se solidificar nas próximas semanas, ainda que a turbulência financeira dilua a influência dos fundamentos nas oscilações, nuble previsões e iniba discursos peremptórios.

A duração da "financeirização" dos mercados é uma incógnita ainda a ser decifrada. "O relatório de 31 de março é um dos mais esperados dos últimos dez anos", diz Renato Sayeg, da Tetras Corretora. Os analistas procuram um novo preço de referência para embasar seus argumentos. No caso da soja, a média histórica de US$ 6 por bushel em Chicago, que tanto guiou o mercado, praticamente deixou de servir de parâmetro após a disparada iniciada no último trimestre de 2006. Neste ano, o preço já atingiu seu recorde histórico, mas inverteu a trajetória e, apenas na semana passada, acumulou perda de quase 10%. Na quinta-feira, após a terceira baixa-limite em quatro sessões, os contratos para julho fecharam a US$ 12,22 o bushel.

"Desde meados de 2007, as projeções para o crescimento global vão sendo revistas para baixo. Apesar disso, os preços das commodities dispararam. A coincidência desses dois fatos desmente a noção de que o crescimento seria suficiente para explicar o comportamento dos preços das commodities, que o crescimento da China continuaria a sustentá-los. Esses preços sobem com a queda dos juros americanos, mas o fim do 'overshooting' desses preços está chegando", opinou a economista Eliana Cardoso em artigo publicado no Valor na quinta-feira.

A ligação entre as apostas dos fundos e a alta das commodities agrícolas pode ser verificada por números apresentados pela Agência Rural. Em janeiro de 2006, por exemplo, a posição dos fundos no mercado de soja em Chicago estava zerada, e os contratos estavam em US$ 6. Em janeiro de 2008, quando o número de contratos equivalia a 19,9 milhões de toneladas, o preço se aproximou da marca de US$ 13.

Há economistas e especialistas em mercados agrícolas com visões divergentes, mas o baque nos mercados na semana passada fortaleceu a posição de Eliana. O indicador do Commodity Research Bureau, de Chicago, que reúne produtos agrícolas, petróleo e metais, caiu 8,3%, a maior retração semanal em mais de meio século. Em Chicago, o milho para julho caiu 7% na semana, para US$ 5,1925 o bushel, e o trigo recuou 17%, a US$ 9,8650 o bushel.

"A queda das bolsas tornou as ações das empresas mais atraentes. Pode haver alguma migração de commodities para outros mercados", diz Daniel D'Ávila, da corretora Newedge, em Nova York. Isso, avalia, pode alimentar a volatilidade. Sayeg, da Tetras, crê que as turbulências perderão força só no segundo semestre e que, até lá, a trajetória dos preços deverá se assentar, "seja ela pessimista ou de estabilidade".

Para Antonio Sartori, da corretora Brasoja, ainda é preciso "estar preparado para esperar o inesperado". Ele prevê fortes oscilações nos próximos meses. Até 31 de março, tais variações estarão muito vinculadas aos movimentos dos fundos, inclusive nas demais commodities, particularmente o petróleo. Nos três meses seguintes ao esperado relatório do USDA, prevê, o nervosismo tende a aumentar em razão da combinação entre o humor dos fundos e o período de influência climática no desenvolvimento das lavouras dos EUA. A partir de meados do ano, acredita, será possível notar se haverá mudanças nos níveis e nos rumos dos preços internacionais, e esse novo quadro decorrerá dos reais tamanhos das produções americanas e da evolução da crise naquele país.

Caso os EUA entrem mesmo em recessão, afirma Sartori, as cotações das commodities agrícolas poderão despencar apesar de as perspectivas de longo prazo permanecerem positivas em razão dos emergentes. Mas, caso os EUA consigam domar a crise, diz, os preços poderão até subir mais.

Para Emmanuel Zulo, da Corretora Souza Barros, antes do amadurecimento de tendências haverá novas quedas, e elas deixarão seus reflexos no mercado doméstico. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), ele projeta queda da saca de 60 quilos da soja para R$ 23, ante os atuais R$ 26. Mas lembra que, antes do início da escalada das cotações, no fim de 2006, a saca estava em R$ 18.

Fonte: PorkWorld, 24 de março

 

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