Soja 'vence' disputa por área nos EUA e preços despencam
1/4/2008 11:30:57



Em um cenário já atribulado pela dimensão ainda desconhecida da crise da economia americana e pelo movimento acelerado de entrada e saída dos fundos especulativos do mercado de commodities agrícolas, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) adicionou ontem mais combustível à volatilidade. Na bolsa de Chicago, o preço da soja registrou a maior queda permitida em uma sessão. No aguardado primeiro relatório de projeção de plantio da safra americana, o USDA estimou uma área de 30,2 milhões de hectares para a soja na próxima safra (2008/09), acima dos 25,7 milhões do ano passado e mais do que sinalizavam as projeções dos analistas. Com isso, em Chicago os contratos com vencimento em julho caíram 70 centavos de dólar (5,4%), para US$ 12,15 por bushel.

A forte valorização da soja em 2007 estimulou o aumento do plantio. O preço da commodity subiu 64% no ano passado. Neste ano, a cotação média dos contratos de segunda posição de entrega, normalmente os de maior liquidez, acumula alta de 16,89%. O desempenho contrasta com o do mês de março, quando a cotação média da commodity caiu 2,41%, segundo o Valor Data. Outra ampliação de área prevista pelo USDA, desta vez para o trigo, justificou a queda acentuada dos preços do cereal. O relatório projetou área de 25,8 milhões de hectares, 5,5% a mais que em 2007. Com o declínio de 59 centavos de dólar - e depois de bater no limite de 60 centavos -, o trigo para julho negociado em Chicago fechou a US$ 9,37 por bushel. Mesmo com os percalços de março, o trigo encerrou o mês em alta. Na média, os contratos de segunda posição de entrega subiram 2,48%. No ano, o avanço acumulado é de 18,47%.

O milho também manteve-se valorizado em março. Os contratos de segunda posição de entrega subiram, na média, 5,84%. Ontem, com o anúncio de que a área dedicada ao grão cairá de 37,8 milhões para 34,8 milhões de hectares, os contratos com vencimento em julho negociados em Chicago subiram 8,25 centavos de dólar, a US$ 5,82 por bushel. Ao sabor da crise americana, os fundos de investimentos aceleraram as compras e vendas dos contratos de commodities agrícolas a partir de fevereiro, movimento que ganhou força em meados de março, com a proximidade do fim do trimestre. O relatório do USDA era um dos mais aguardados dos últimos tempos porque ajudaria a dar uma leitura mais fundamentalista a um mercado que vinha sendo guiado por leituras financistas.

Passado o anúncio, e ainda que as quedas de ontem possam perdurar por mais alguns dias, o novo norte dos analistas serão os relatórios sobre clima nas áreas de plantio - além do dimensionamento da crise americana. "Em três anos, perderam-se 57 milhões de toneladas, em cereais e grãos, por conta de problemas climáticos na Austrália, nos Estados Unidos e na União Européia. Se houver um novo problema grande de clima, as conseqüências poderão ser bíblicas, pantagruélicas", diz Mauro de Rezende Lopes, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisador e membro do conselho consultivo do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE). Em uma análise em que leva em conta mais o movimento do preço do petróleo que o da presença dos fundos no mercado de commodities agrícolas, diz Lopes, o cenário ainda é de preços altos. A demanda por alimentação humana e animal continua em alta e, para conter inflação interna, países como a Índia têm restringido exportações.

A economista Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria, também avalia como altista a tendência dos preços. Na média dos contratos de primeira posição, segundo seus cálculos, soja, milho e trigo deverão encerrar 2008 com altas de 39,3%, 20,6% e 35%, respectivamente.

Fonte: PorkWorld, 1º de abril

 

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