Opinião: Qual o futuro do etanol de milho dos EUA?
16/05/2014 13:58:16



A cada três sacas enviadas ao porto, duas vão para custear o frete.

Aprosoja-MT há cinco anos vem estudando a viabilidade do etanol de milho

Glauber Silveira

Especial para o Agrodebate

No Brasil a Aprosoja-BR e a Aprosoja-MT têm buscado alternativas para amenizar o problema da logística do milho produzido na região central do país. Afinal, são mais de 30 milhões de toneladas de excedente de produção e que, apesar da grande eficiência produtiva dos agricultores brasileiros, têm margem negativa em virtude da precariedade da logística. Para se ter uma ideia, a cada três sacas enviadas ao porto, duas vão para custear o frete.

Enquanto a sonhada logística não acontece em sua totalidade, a Aprosoja-MT há cinco anos vem estudando a viabilidade do etanol de milho espelhada na experiência norte americana. Com isto, fizemos fóruns de discussão e estudos de viabilidade para realidade brasileira. A consultoria Céleres e o IMEA têm se empenhado nos dados para encontrar os gargalos do etanol de milho e cereais brasileiro.

Mas o etanol de milho no Brasil já é uma realidade, com duas usinas flex operando no MT, produzindo etanol de cana na safra e de milho na entressafra, enquanto em Goiás outra está já sendo implantada. Mas isto é pouco, queremos mais e por isto em junho iremos realizar um fórum no Brasil mostrando várias experiências internacionais de produção de etanol de cereais. E para dar encaminhamento a este fórum eu e o executivo da Aprosoja-BR, Fabrício Rosa, estivemos neste final de abril nos EUA falando com aqueles que deram o passo inicial do programa naquele país.

Nos EUA falamos com Paul Taylor, diretor da Nacional Corn Growers Association e com Dave Loos da Illinois Corn Growers Association. Nosso objetivo era saber a realidade do programa de etanol americano e o que eles esperam para o futuro. Afinal, a cada ano vemos notícias que preocupam os produtores do Brasil, pois sabemos o impacto que a produção de etanol de milho nos EUA teve nos preços não só do milho, mas também da soja. Conversamos muito com eles sobre o programa de etanol norte-americano e o conteúdo desta conversa eu relato a seguir.

No início do programa, o etanol era o produto mais importante, apesar do processo produzir também o DDGS (resíduo concentrado proteico) e óleo. Porém, a partir do ano passado o DDGS passou a ser mais relevante, pois a falta de proteína vegetal devido ao baixo estoque de soja fez a demanda pelo produto crescer até se tonar mais importante economicamente que o etanol. O mercado interno dos EUA passou a demandar muito DDGS, sendo que hoje ele já compõe 25% da ração de suínos e 20% da ração de bovinos no país, e isto tem crescido mais a cada ano.

Segundo Dave Loos, no início eles não sabiam o que fazer com o DDGS, mas hoje as pesquisas têm mostrado que é possível atingir teores de até 80% de DDGS na ração para bovinos e os confinamentos próximos às usinas têm usado o DDG líquido. Paul Taylor nos relatou que só a indústria de frango, mais tradicional, tem sido resistente ao uso do DDGS na ração. Mas eles estão vencendo esta resistência através da pesquisa, mostrando os benefícios à saúde de se consumir frango produzido com DDGS. Convencendo os consumidores eles tirariam esta barreira, pois as empresas aviárias se veriam forçadas a utilizar o DDGS.

Atualmente, muitas empresas estão retirando o óleo no processo de secagem do DDGS, e este óleo é usado na produção de biodiesel. Hoje, 30% do biodiesel dos EUA é produzido a partir do óleo oriundo das usinas de etanol de milho.

Perguntamos a eles qual foi o papel do governo no programa de etanol de milho, se houve incentivo financeiro. Eles nos disseram que o incentivo do governo federal foi na legislação que garantiu a adição do etanol na gasolina. Esta legislação deu suporte e segurança para que as indústrias se formassem, pois possibilitou que contratos de longo prazo fossem estabelecidos. Porém houve incentivo Estadual a instalação de indústrias, o governo em Illinois, por exemplo, apoiava com U$15 milhões por empresa com um limite de U$5 milhões para cada indústria, isto incentivava que muitas companhias instalassem pelo menos três indústrias.

A indústria de etanol de milho nos EUA é feita de grandes corporações ou grandes cooperativas, são grandes fornecedores de milho, grandes compradores do etanol, grandes compradores de DDGS e grandes confinamentos. Tudo é em ampla escala sem atravessadores – o sistema é integrado.

Nos EUA eles estão investindo muito na pesquisa do etanol de milho de segunda geração que utiliza a planta toda, ou seja, é utilizada a palha, o colmo, a espiga com palha e sabugo na produção de etanol. Os estudos mostram que o etanol produzido a partir da planta será uma grande revolução pela quantidade que poderá render e também pela quantidade e qualidade do DDGS que terá um teor de proteína muito superior ao atual. Com isto, a produção de energia e alimento por hectare será fantástica.

Questionamos sobre a velha discussão sobre alimentos verso combustível, eles disseram que existe e sempre vai existir. Mas, a grande questão é a importância do equilíbrio na cadeia, a indústria da carne, de qualquer lugar do mundo, quer comprar milho e soja muito barato e isto não será possível, mais é preciso entender que estamos em um novo tempo e com novos patamares de preços.

Ficou claro para nós que o programa de etanol de milho nos EUA teve um grande sucesso pelo trabalho conjunto de governo, iniciativa privada e produtores, no qual cada um fez sua parte e a cumpriu. No Brasil, temos uma legislação semelhante, mas por outro lado, o governo regula o preço da gasolina e mata o incentivo ao etanol criado na legislação tirando a viabilidade das usinas de cana. Temos um árduo trabalho pela frente para construir modelos seguros de investimentos e um mercado potencial atrativo para todos, produtores de milho e produtores de etanol e DDGS.

Glauber Silveira é engenheiro agrônomo com MBA em Gestão Empresarial de Cooperativas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), diretor da ABAG( Associacão Brasileira do Agronegócio) e do Instituto Ação Verde, conselheiro do SENAR - MT e do INPEV, reside em Mato Grosso, no município de Campos de Júlio, onde é produtor rural.

Fonte: G1, 29 de abril

 

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