INDICADORES DE TENDÊNCIA CIMILHO (71): Ascensão e queda nos preços do milho
11/09/2014 14:57:13



Rubens Augusto de Miranda e João Carlos Garcia

Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo

Situação mundial

Em 2012, estiagens prejudicaram a produção agrícola em diversas partes do globo. Os Estados Unidos, especificamente, se defrontaram com uma das maiores secas da sua história, resultando em quebra de safra superior a 100 milhões de toneladas do seu principal produto agrícola, o milho. A consequência imediata foi a alta sem precedentes dos preços do cereal, chegando a superar os US$ 8,5 o bushel (US$ 334,6 a tonelada).

Passadas duas safras de números recordes (em termos positivos) dos principais países produtores do mundo (EUA, China, Brasil e Ucrânia), os preços do milho no mercado internacional já voltaram aos patamares de 2010, quando os valores estavam na casa de U$ 3,80 o bushel (US$ 150 a tonelada). Os contratos de milho vendidos na bolsa de Chicago para setembro de 2014 já estão sendo negociados a U$ 3,48 o bushel (US$ 137 a tonelada), e há condições para que os preços baixem ainda mais, por ocasião da colheita nos EUA.

Apesar de a área plantada de milho nos EUA, na safra 2014/15, ter diminuído 1,55 milhões de hectares, a projeção mais recente do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) é que a produção supere o recorde de 2013/14, alcançando 356,4 milhões de toneladas. Isso se deve ao aumento da produtividade, passando de 9,97 t/ha para 10,51 t/ha, o que também será um valor recorde para o país, caso se confirme. A despeito da diminuição da colheita de importantes produtores, como Brasil e Ucrânia, as projeções apontam para o aumento da produção mundial, o que deve levar também ao aumento dos estoques globais do cereal.

Tais condições de oferta, superando novamente a demanda, fundamentam a ocorrência de preços baixos globais do milho ao longo do ano agrícola 2014/15. Dentre os fatores que podem modificar esse cenário, há o agravamento do conflito na Ucrânia e o nível de severidade do fenômeno climático El Ninõ, ocorrendo ao longo do segundo semestre de 2014.

Situação Interna

No Brasil, a soja continua conquistando o espaço do milho na safra verão. As projeções recentes da Safras & Mercado apontam para redução da área plantada do cereal, mas que poderá ser compensada pelo aumento da produtividade, segundo essa consultoria. Assim, a produção de milho no verão pode aumentar, apesar dos baixos preços, induzidos pela grande segunda safra de 2014, que se manteve praticamente inalterada em relação à colhida em 2013.

Em relação aos preços, no norte do Mato Grosso, a saca de milho já está sendo negociada abaixo de R$ 10 a saca. Tais valores, além de serem incapazes de cobrir os custos de produção, também estagnam a comercialização da safra. Nesse sentido, os preços no Estado, abaixo do preço mínimo de R$ 13,56 definido para a região, induziram a realização de leilão de Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural) pela Conab, contemplando 900 mil toneladas de milho mato-grossense. Essa subvenção garante ao agricultor a diferença entre o preço mínimo e o valor obtido no mercado, diminuindo o prejuízo, mas não paga a conta, segundo os produtores da região quando se decidiu o piso da saca alguns meses atrás.

O que preocupa no atual cenário do milho no Brasil, principalmente no que se refere ao Mato Grosso, por precisar escoar o grão para outras partes do Brasil e exterior, é o aumento da disponibilidade interna do cereal. Na safra 2012/13, o Brasil produziu, pelos dados da Conab, 81,5 milhões de toneladas de milho. Isso contribuiu para o aumento do estoque final da safra em 3 milhões de toneladas, passando de 5,5 para 8,6 milhões de toneladas, apesar das exportações recordes de 26,6 milhões de toneladas.

Passado um ano, a produção de milho reduziu 3 milhões de toneladas em 2013/14, caindo para 78,5 milhões de toneladas, mas as exportações também diminuíram. Considerando o acumulado até julho, o Brasil exportou 3,2 milhões de toneladas a menos em relação ao mesmo período de 2013, reduzindo de 9,16 milhões de toneladas para 5,93 milhões de toneladas. Com a esperada redução dos embarques da soja no segundo semestre de cada ano, foram exportadas 17,45 milhões de toneladas nos últimos cinco meses de 2013, desempenho que não deve ser igualado no segundo semestre de 2014. Assim, os estoques devem aumentar ainda mais. Os dados da Conab apontam para um estoque final de milho da safra 2013/14 de 12,8 milhões de toneladas, 4,2 milhões superior ao fechamento da safra anterior.

Todos esses fatos somados dão contorno a um cenário muito pessimista dos preços do milho ao longo do próximo ano agrícola. O problema é que a gordura acumulada (com o aumento de estoques) deixa pouca margem para alguma melhora significava nos preços no curto prazo.

Os produtores de carnes de aves e suínos, após tanto reclamarem dos altos preços do milho nos dois últimos anos, devem estar sentindo o mesmo que Isaac Newton ao presenciar a queda da maçã do seu pomar. O inglês percebeu que tudo que sobe tem que descer, e daí resultou a Lei da Gravitação Universal. Resta saber que aprendizado os produtores de carnes e de grãos podem tirar da alta recorde e a posterior queda do preço do milho, de forma que as grandes oscilações não prejudiquem a atividade produtiva de ambos. Lembrando sempre que a baixa de hoje engendra a alta de amanhã.

 

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