INDICADORES DE TENDÊNCIA CIMILHO (78): O efeito do câmbio no milho
06/11/2015 15:02:43



Rubens Augusto de Miranda

Pesquisador da Área de Economia Agrícola da Embrapa Milho e Sorgo

Após uma safra brasileira recorde de milho, 85,5 milhões de toneladas, segundo a Conab, era de se esperar que a oferta adicional induzisse a queda nos preços domésticos do grão. Isso considerando uma estabilidade na demanda. Entretanto, alguns fatos novos alteraram o curso dessa história.

Primeiramente, a quebra da safra europeia de milho, que reduziu 23% ou 17,7 milhões de toneladas em relação ao ano anterior, poderá impulsionar as exportações brasileiras do cereal nos próximos meses, já que os dois principais concorrentes do Brasil no mercado internacional, Argentina e Ucrânia, não possuem excedentes para aproveitar a oportunidade.

Além da situação europeia, a atual conjuntura de depreciação cambial do real em relação às principais moedas também é favorável às exportações. O câmbio depreciado garante que o exportador ganhe mais reais por dólares exportados, assim, ele pode ganhar mais cobrando menos em dólar, tornando o milho brasileiro mais competitivo.

Um fato ilustrativo dessa situação cambial é que, nos últimos meses, o Brasil tem exportado milho para os Estados Unidos da América (EUA), apesar de a safra americana ser a terceira maior da sua história. Um levantamento da consultoria AGR Brasil, situada em Chicago, mostrou que recentemente os preços praticados nos portos do Brasil têm sido mais baixos que os dos portos norte-americanos. No dia 23 de outubro, enquanto a tonelada de milho FOB (free on board), nos portos brasileiros, era vendida a U$ 169,29, nos portos norte-americanos o valor era de U$ 182,28. Essa diferença de U$ 13,00, segundo a AGR Brasil, compensaria o custo de frete marítimo e os prêmios cobrados em alguns mercados dos EUA.

Em entrevista recente, o operador sênior Mark Beemer, ex-presidente da Aventine Renewable Energy, dos EUA, disse que "O milho está indo para produtores de ração nas Carolinas (do Norte e do Sul). Principalmente para abastecer criadores de suínos... Certamente é o resultado do atual nível da moeda brasileira".

O exemplo anterior basicamente nos diz que, se o Brasil consegue exportar milho para o maior produtor e exportador mundial num ano de grande safra da cultura no país, o céu é o limite para o grão brasileiro no mercado internacional, dentro da atual conjuntura. O cenário descrito viabilizou o crescimento do preço da saca de milho no Brasil, que aumentou, em média, 10% no mês de outubro em relação a setembro de 2015 e mais de 30%, quando comparamos a outubro de 2014.

Por outro lado, nem tudo são flores na depreciação cambial. Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), mais de 70% dos fertilizantes consumidos no país são importados, resultando no encarecimento do principal insumo para a produção de milho com o real perdendo valor. No levantamento de preços dos insumos de milho realizado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), a variação anual em setembro do formulado 08-16-16, do sulfato de amônia e da ureia foi, respectivamente, de 40,20%, 33,74% e 27,59%. Assim, o potencial ganho com o aumento do preço da saca está sendo corroído pelo aumento dos preços dos principais insumos.

No Mato Grosso (MT), principal estado exportador de milho, muitos produtores têm lançado mão de vendas antecipadas para travar os custos. No relatório de acompanhamento da comercialização da safra mato-grossense de milho elaborado pelo IMEA, em outubro de 2015, a negociação antecipada da safra de milho 2015/16 já chegou a 44,77%. A safra anterior só alcançou esse percentual em abril deste ano. Ou seja, entraremos em 2016 com a maior parte da safra do MT já vendida.

A despeito dos bons preços do milho, a conjuntura demanda que o produtor gerencie adequadamente o momento de compra dos insumos e a venda do produto para garantir a rentabilidade da lavoura. Obviamente essa é uma lição a que todo produtor deve estar sempre atento, mas o momento mostra que mesmo os bons preços podem garantir grandes prejuízos se o encarecimento dos insumos não for bem administrado.

 

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