Agricultura: custo de fertilizante ameaça competitividade do setor
1/8/2008 13:34:54



O custo dos fertilizantes está anulando os ganhos da agricultura com o aumento da produção e melhoria dos preços das commodities no mercado internacional, segundo levantamento do Sistema Ocepar. Entre 2001 e 2008 a produção brasileira de grãos aumentou de 100 milhões de toneladas para 147 milhões de toneladas. Embora aos olhos do cidadão comum isso possa representar um significativo enriquecimento do campo, a realidade é bem diferente.

Uma seqüência de quebras nas safras 2003/04, 2004/05 e 2005/06 diminuiu a produção em 31 milhões de toneladas.

Teoricamente, os bons preços no mercado mundial compensariam essas perdas se os fertilizantes, principal insumo da produção, não tivessem tido seus preços reajustados bem acima do que se esperava.

Estudo realizado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), indica que alguns formulados foram reajustados, apenas na última safra, em mais de 100%, repercutindo no aumento da participação dos fertilizantes no custo de produção.

No trigo, a participação do custo dos fertilizantes no custo de produção subiu de 18% na safra 2003/2004 para 26,5% na safra 2007/2008. Na soja, subiu de 12% para 17,5%; no milho, de 21,5 % para 29%. "Essa situação frustra os produtores que plantam com custo alto e não têm certeza se os preços dos cereais serão atrativos na hora da venda da safra", afirma o presidente da Ocepar, João Paulo Koslovski..

Diante do significativo reajuste dos preços dos fertilizantes e com o objetivo de estudar seu impacto na agricultura paranaense, a Gerência Técnica e Econômica da Ocepar realizou estudo que aponta as perspectivas de remuneração nas culturas de trigo, soja e milho. "Na cultura do trigo os custos de produção aumentaram em 27% em maio de 2008 em relação ao mesmo período do ano anterior".

O produtor de trigo, que enfrentava baixas condições de viabilidade, recuperou parte da sua competitividade, devido ao aumento de preços no mercado interno e internacional. Ainda preocupam as quedas de preços que sistematicamente ocorrem a partir de agosto, quando se inicia a colheita nacional.

Na soja, dados da Conab mostram que a participação do fertilizante nos custos de produção elevou-se de 10% para 15% na região de Londrina e de 13% para 20% na região de Campo Mourão entre as safras 2002/03 a 2008/09. "Embora a rentabilidade esperada para a safra 2008/09 seja ainda positiva, espera-se uma grande redução na margem dos agricultores, em torno de 47%", afirma o gerente técnico e econômico da Ocepar, Flávio Turra. Na cultura da soja os custos de produção aumentaram em 21% em maio de 2008 em relação ao mesmo período do ano anterior No milho, levantamento da Conab mostra que o maior impacto dos fertilizantes nos custos de produção ocorreu em Campo Mourão, onde a sua participação na composição dos custos subiu de 17% para 32%. E na região de Londrina a participação dos fertilizantes na composição do custo de produção subiu de 18% para 26% entre as safras 2002/03 e 2008/09. "Os preços recebidos pelo produtor deverão ficar muito próximos dos custos operacionais, com rentabilidade baixa", sinaliza Turra. Na cultura do milho os custos de produção aumentaram em 25% em maio de 2008 em relação ao mesmo período do ano anterior As razões da crise O aumento do consumo mundial de fertilizantes é a razão central do grande aumento dos preços. Segundo a Associação Internacional da Indústria de Fertilizantes, entre 1996 a 2008 houve um aumento médio de 31% no consumo de fertilizantes no mundo. Mas a expansão do consumo nos países em desenvolvimento foi de 56%. E nos países dependentes da importação - como o Brasil -, o impacto é sempre maior, principalmente se o fornecimento fica restrito a um pequeno grupo. O Brasil importa cerca de 88 % das necessidades de cloreto de potássio, 87% do sulfato de amônia, 60% da uréia, 100% do enxofre e 41% do nitrato de amônia. O maior volume de importações está na mão de três grupos.

Estudo conduzido pelo Ministério da Agricultura mostra um panorama sombrio nesse setor, com a concentração do fornecimento em três grupos multinacionais e uma capacidade instalada da produção nacional para atender apenas 39% da demanda de fertilizantes. E que em 2015 a demanda deverá chegar a 33,6 milhões de toneladas, a custos acima de R$ 1.000,00 por tonelada. Isso causará, em 2018, um impacto negativo na balança comercial de US$ 12 bilhões com despesas de importação.

No Brasil, a maior produtora de fertilizantes nitrogenados é a Petrobrás, que responde por aproximadamente 60% da produção nacional. No caso do fósforo, não há tantas limitações. Existem mais jazidas disponíveis. A maior do país fica em Tapira, Minas Gerais, e pertence a Fosfértil. O Brasil importa 50% do fósforo que utiliza, principalmente da Rússia, de Marrocos e dos Estados Unidos.

Mas ainda pode expandir sua produção, já que tem reservas não-exploradas. A situação mais crítica é a do potássio, pois existe uma única mina em atividade, no estado de Sergipe. Desde 1992 está nas mãos da Vale. Mas produz apenas 10% do cloreto de potássio que o Brasil consome.

Soluções complexas Como o Brasil não tem matéria-prima para ampliar significativamente a produção interna de fertilizantes, com exceção de nitrogenados, restam poucas opções de solução ao problema. O estudo do Ministério da Agricultura sugere a formação de um consórcio cooperativo, fora da influência do oligopólio, para aumentar a produção interna com matéria-prima importada e nacional. Para isso seriam construídas duas misturadoras (compostos NPK), uma no Paraná e outra no Mato Grosso e uma indústria para extração de rocha fosfática e produção de derivados, também no Mato Grosso. Também propõe que a Petrobrás construa nova fábrica de amônia para substituir a importação. Estima-se que a formação de um consórcio para atuar na importação e na formulação de fertilizantes trará uma redução de custos no produto final de cerca de 20%, contribuindo para o equilíbrio dos preços.

Nos últimos meses o presidente Lula, o ministro Reinhold Stephanes e outros defenderam a intervenção do governo para reduzir a dependência externa em fertilizantes. O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, falou do aumento da importação e da redução das alíquotas dos impostos. "Vamos precisar do envolvimento da Petrobrás e Vale, para que haja incremento na produção de adubo", disse José Múcio Monteiro, da área de Relações Institucionais do governo.

O ministro da Agricultura Reinhold Stephanes afirmou que o governo está atento ao problema e estuda algumas soluções. Reconheceu que mexer nessa estrutura não é fácil, enfatizando que a Petrobrás tem papel fundamental no contexto de alta nos preços dos fertilizantes, podendo, inclusive, atuar na exploração das jazidas de fósforo. Com informações da assessoria de imprensa da Ocepar. (AB)

Fonte: Último Segundo, 31 de julho

 

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