Temor chega ao Estado
19/9/2008 14:54:01



A crise iniciada no mercado financeiro norte-americano e que desaguou com a queda das principais Bolsas de Valores do mundo, impactando também sobre as commodities, já chegou ao Estado e traz com ela preocupações e incertezas ao agronegócio mato-grossense. A curto prazo, a crise deverá reduzir a oferta de crédito privado ao cultivo da safra e também diminuir o apetite do mercado internacional em investir nas commodities, eliminando um dos tripés que sustentavam as altas observadas durante os seis meses deste ano.

Na avaliação do superintendente do Imea – órgão ligado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Seneri Paludo, a crise nas Bolsas “é mais um temor” para a nova safra, que segundo ele já começa difícil. “A nossa grande preocupação é de que com a fuga dos fundos de investimentos do mercado de commodities – que estavam sustentando as cotações nos últimos anos – haverá retração da demanda e maior dificuldade de liquidez no mercado (falta de crédito). Como Mato Grosso tem mais de 80% de suas necessidades de recursos oriundas do setor privado, terá problemas de crédito para continuar plantando”.

O efeito cascata da crise, que tira dinheiro de circulação, poderá gerar perda de renda aos produtores na safra 08/09. Segundo analistas, os produtores que não anteciparam suas vendas vão ter prejuízos na hora de vender a soja, já que o mercado sinaliza queda nos preços, mesmo com a demanda mundial por alimentos aquecida.

De acordo com levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea) apenas 21% da soja da próxima safra foram travados com as tradings, vendidas de forma antecipada.

No começo desta semana, o pedido de concordata do Lehman Brothers e a venda do Merrill Lynch para o Bank of America, além dos problemas enfrentados pela seguradora AIG, promoveram uma fuga de divisas em função do risco nos mercados globais. As Bolsas desabaram pelo mundo, significando para a Bovespa a maior queda percentual em mais de sete anos.

Fernando Muraro, da Agência Rural, está preocupado. Dos três itens que seguraram os preços elevados das commodities no primeiro semestre, um já deixou de dar suporte: os fundos de investimento. "Os estoques se mantêm baixos, mas ainda há dúvidas sobre o que vai acontecer com a renda. O agronegócio brasileiro precisa ficar de olho na economia asiática", disse ele.

Para o diretor do Centro-Grãos da Famato, João Birkham, o reflexo [da crise] é extremamente ruim para o agronegócio. “A queda fez com que os mercados se derretessem em todo o mundo e isso é muito preocupante”.

Ele diz que atualmente os preços da soja já estão num nível que não fecha a conta do produtor. “Já tivemos cotações de US$ 15,50 por bushell (cerca de US$ 26/saca de 60 quilos) e hoje os preços estão abaixo de US$ 12 (US$ 17,80/saca). Isso é muito ruim, pois o produtor precisaria vender hoje saca de soja a US$ 20 dólar para pagar os custos de produção”.

O fator positivo, na opinião de Birkham, é que a soja é uma das poucas commodities que pode voltar a subir mesmo no cenário de crise. “Acredito que o mercado da soja poderá se recuperar, pois a soja tem uma característica própria. Em primeiro lugar, os estoques mundiais estão em baixa e isso vai fazer com que os preços se recuperem. Em segundo lugar, a crise provavelmente não irá afetar o consumo de proteínas, pois esta é uma crise de países ricos – EUA e Europa – que estão com economia em ritmo decrescente. Seria pior se esta crise ocorresse nos grandes países consumidores, como China e Índia”.

O consultor da Famato e economista, Amado Oliveira Filho, diz que a queda das Bolsas é preocupante para todo o mundo. “A crise estrangula o mercado e gera incertezas”, afirmou, acrescentando que pode ser contornada a curto prazo porque o governo dos Estados Unidos já tomou providências e injetou recursos (US$ 85 bilhões) para socorrer a AIG. “Esta ajuda sinaliza para o mundo que a situação será resolvida a curto prazo”, afirmou ele.

Para o professor de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Manoel Martha, a crise das Bolsas não afetará o planejamento da safra deste ano, “pois os produtores já se prepararam e aguardam o momento para iniciar o plantio”.

 

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