Brasil pode reduzir área de milho; soja cresce menos
7/10/2008 13:11:05



No momento em que produtores começam o plantio no Brasil em 2008/09, em meio à turbulência financeira, analistas revisam para baixo as projeções para a área plantada, indicando que safra de soja crescerá menos do que o previsto e que a produção de milho poderá ter queda, após um recorde em 2007/08.

A recente queda nos preços dos dois principais grãos plantados no Brasil, a restrição de crédito pelas tradings e mesmo a dificuldade maior de se obter financiamento em bancos em tempos de aperto global terão efeito na produção.

Segundo os consultores, a área de soja só não cairá porque a semeadura em Mato Grosso, o maior produtor nacional, deve ocorrer nas fertilizadas terras antes dedicadas ao algodão, o que permite economia nas despesas. Já o milho terá redução de plantio, especialmente no Sul, com agricultores plantando mais a oleaginosa, que garante atualmente uma rentabilidade maior.

"Justamente na hora do plantio nos principais players da América do Sul vem esse choque. Isso acendeu um farol amarelo para intenção de aumento de área", disse o analista da AgraFNP Pedro Collussi, integrante do grupo global Agra Informa.

Segundo ele, 2008/09 tinha "tudo para ser um grande ano", a área de soja poderia aumentar "muito mais" e agora a AgraFNP, que está alterando suas estimativas, já vê queda no milho.

Outro analista, Fernando Muraro, da Agência Rural, é mais enfático na avaliação das safras. "A área de soja deve ter crescimento entre 3% a 5%, mas definitivamente cai o investimento em fertilizante, vai ser uma safra mais na manha", disse ele, observando que, apesar da rentabilidade menor da oleaginosa em relação a 07/08, os ganhos ainda são razoáveis, mesmo ante custos recordes de US$ 800 a US$ 900 por hectare nas áreas de soja do Centro-Oeste.

Para o milho a situação é pior. Segundo Muraro, no Sul do País, onde se situa o maior produtor do Brasil (o Paraná), o custo de produção do cereal ficou acima do da soja. "Então plantar milho no Sul é inviável... No Brasil, a área de milho deverá ter queda de 5% a 8%, puxada pela redução no Sul", destacou.

O País colheu uma safra recorde de milho de 58,5 milhões de toneladas em 07/08, pouco abaixo da produção de soja (60 milhões), cultura na qual ocupa o posto de segundo produtor mundial.

A situação do milho é mais grave que a da soja no Brasil, entre outras coisas, pelos grandes estoques de passagem em 07/08, estimados pela AgraFNP em 16 milhões de toneladas. As reservas cresceram porque o país esperava exportar mais de 10 milhões de toneladas este ano, e na melhor das hipóteses as vendas atingiriam 6 milhões de toneladas, com a redução da demanda européia e iraniana nesta temporada.

Fundamentos

"É uma safra de muita tensão, a safra começa ser plantada com muita pulga atrás da orelha... A minha recomendação é a seguinte: vamos apagar a televisão, os jornais, e voltamos daqui a 30 dias", comentou Muraro, indicando que a situação eventualmente pode melhorar após a turbulência.

Já o analista André Debastiani, da Agroconsult, avalia que apesar das dificuldades financeiras os fundamentos para o mercado de soja continuam sólidos.

"Os patamares de preços estão sendo rompidos (para baixo) dia após dias... mas os fundamentos continuam positivos, o mundo vai continuar comendo, tem estoques bastante baixos... Essa crise vai afetar alimentos, mas vai ser muito menos que qualquer outro setor", destacou Debastiani.

Se a situação de mercado é complicada, pelo menos as condições meteorológicas devem favorecer a semeadura no Centro-Oeste, segundo avaliação do Ministério da Agricultura, que prevê chuvas "entre normal e pouco acima da média histórica", segundo estudo divulgado nesta sexta-feira.

Em Mato Grosso, onde o plantio começa antes das demais regiões produtoras, choveu nos últimos dias, o que permitirá uma maior evolução da semeadura, segundo a Agência Rural.

No Paraná, embora ainda pouquíssimos campos de soja tenham sido semeados, o plantio de milho já começou, atingindo mais de um terço da área estimada de 1,3 milhão de hectares, queda de 6,2% ante 07/08, de acordo com o governo do Estado.

Fonte: Terra, 3 de outubro

 

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