Etanol deixa de ser visto como vilão do preço do milho
27/10/2008 10:35:43



Chicago - A forte demanda por milho de produtores de etanol nos Estados Unidos foi considerada o catalisador para os futuros do cereal atingirem altas recordes em junho, mas desde então a queda das commodities mostra que aquela idéia estava errada.

"Os preços recordes foram uma bolha especulativa", disse Stewart Ramsey, economista sênior da Global Insight.

"Tivemos várias razões para os preços subirem, e muito, e a utilização de etanol foi uma delas", completou.

Os preços dos alimentos nos EUA, que normalmente sobem 2,5 por cento por ano, avançaram 4 por cento em 2007, o maior aumento em 17 anos. Os preços mundiais dos alimentos saltaram 40 por cento, causando distúrbios e estocagens de produtos em alguns países.

O governo estimou que os preços dos alimentos nos EUA subirão 5,5 por cento neste ano e 4,5 por cento em 2009.

Os futuros do milho na bolsa de Chicago atingiram o recorde de 7,65 dólares por bushel para o contrato referencial no final de junho. Mas o preço do contrato spot agora é negociado por volta de 3,85 dólares.

O uso do milho para produzir etanol nos EUA de fato influencia o preço do grão. Analistas, incluindo alguns do setor de álcool, afirmam que a demanda adiciona de 75 centavos a 1 dólar por bushel ao preço do milho.

Essas estimativas indicam que o milho a 4 dólares por bushel pode ser precificado a apenas 3 dólares sem a demanda por álcool.

Uma lei federal exige a produção de 9 bilhões de galões de biocombustíveis neste ano e de 10,5 bilhões no ano que vem. A exigência passa para 36 bilhões de galões até 2022, com a oferta de etanol a partir de milho limitada a 15 bilhões de galões.

É preciso cerca de 1 bushel de milho para produzir 2,8 galões de etanol.

O Departamento de Agricultura registrou 4 bilhões de bushels de milho, ou cerca de um terço da safra dos EUA neste ano, indo para a produção de etanol no ano que vem, contra 3 bilhões de bushels, ou 23 por cento da safra recorde do ano passado de 13,1 bilhões.

DINHEIRO VAI PARA COMMODITIES

Analistas afirmaram que os altos preços do milho são um sintoma de grandes mudanças nos investimentos, passando para o milho e outras commodities. Quando grandes quantidades de dinheiro começaram a deixar as ações há alguns anos, os mercados de commodities, como os futuros de milho, começaram a subir.

"Houve uma bolha especulativa no mercado, e essa foi uma das grandes coisas que aconteceram no mercado, de que os mercados acionários não estavam bons, e por um tempo o dinheiro foi para commodities", disse Ramsay.

Por volta de meados de fevereiro, investidores não comerciais, incluindo especuladores, índices e fundos de hedge, detinham quase 484 mil posições compradas em futuros de milho na CBOT, ou 2,42 milhões de bushels de milho.

Isso seria o suficiente para produzir mais de 6,7 bilhões de galões de etanol e mais de 20 milhões de toneladas de ração animal, de acordo com a Associação de Combustíveis Renováveis.

Em outubro esses investidores tinham cerca de 240 mil posições compradas no mercado de milho, menos da metade do nível visto na primavera e início do verão, disse a associação.

"Tínhamos estoques de milho adequados, não havia escassez, não era esse o problema", disse Don Roose, analista e presidente do U.S. Commodities.

"O que temos é que o dólar caiu tanto, o petróleo subiu e isso inflou um monte de coisas...".

A capacidade dos EUA de produzir etanol subiu 60 por cento desde o ano passado, para 11,2 bilhões de galões por ano, e se todas as novas usinas e expansões entrarem em produção, a capacidade total será de 13,8 bilhões.

Fonte: O Globo, 23 de outubro

 

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