Excedente no milho é igual ao dobro do ano passado
28/10/2008 10:03:48



As quase 14 milhões de toneladas armazenadas, segundo dados da Conab, representam um recorde histórico no país

Os estoques de milho estão no seu maior patamar dos últimos anos, situação que preocupa o produtor brasileiro, que corre para finalizar o plantio da safra 2008/09. A colheita de uma safrinha recorde, aliada à queda nas exportações, vai deixar no mercado brasileiro um excedente de quase 14 milhões de toneladas do cereal, mais que o dobro do registrado no ano passado. O volume é suficiente para quase quatro meses de consumo, contra pouco mais de 50 dias no ciclo anterior. O maior estoque de passagem já registrado até então foi em 2004, quando o país acumulou 7,8 milhões de toneladas do grão, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No ano passado, o excedente foi de 6,6 milhões de toneladas.

A superoferta de produto no mercado interno acontece porque o Brasil colheu na temporada 2007/08 a sua maior safra de milho da história, justamente num ano em que as safras mundiais também foram cheias. Somando a primeira e a segunda safra, a produção no país vai a 58,6 milhões de toneladas, 14% a mais que no ciclo anterior, ainda de acordo com a Conab. O consumo interno cresceu cerca de 10%, mas não foi suficiente para compensar a queda de 31% nas exportações brasileiras do cereal.

A expectativa incial de embarcar em 2008 as mesmas 11 milhões de toneladas de 2007 não vai se concretizar. Na melhor das hipóteses, acreditam os analistas, o Brasil vai exportar cerca de seis milhões de toneladas. A estimativa da Conab é um pouco mais otimista, mas confirma o cenário baixista para a comercialização da nova safra do cereal. Segundo a estatal, o país vai embarcar até o final do ano 7,5 milhões de toneladas. Até agosto, foram 3,9 milhões, acumulado 30% menor que o do mesmo período do ano anterior. Ou seja, para alcançar a meta da companhia, o Brasil teria de exportar, em apenas quatro meses praticamente o mesmo volume que embarcou em oito meses, o equivalente a 900 mil toneladas mensais entre setembro e dezembro.

Com os preços em queda no mercado aqui dentro e lá fora, a comercialização está travada, o que agrava ainda mais a situação. Ao menos por enquanto, ainda não se fala em redução da demanda doméstica – a Conab estima para 2008/09 uma elevação de 4% no consumo interno de milho –, mas no campo o clima já é de apreensão. “Se não houver incentivo, vou reduzir em 80% a área de safrinha”, afirma o produtor Ilsioni Francisco Cherubini, de Medianeira (Região Oeste). Ele cultivou no último ano 250 hectares do cereal de inverno e afirma que a produção foi boa, mas se diz desanimado com as condições atuais de mercado. Neste verão, manteve os 30 hectares de milho porque comprou os insumos antecipadamente, mas está disposto a fazer apenas cobertura verde no inverno se os preços não estiverem atrativos na hora do plantio da segunda safra.

O produtor Paulo Greggio, de Campo Mourão, no Noroeste do estado, também não alterou a área de plantio de milho de verão, que ocupa 288 hectares. Mas ele já decidiu que vai reduzir quase pela metade a extensão destinada à safrinha, no próximo ano. “Pelo custo, o preço do milho está muito ruim”, lamenta o produtor.

Exportação também será menor nos EUA

Se as portas estão fechadas para o milho brasileiro no mercado internacional, os Estados Unidos sofrem do mesmo mal, ainda que de maneira menos intensa. A previsão do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) é de queda de 18% nas vendas externas do cereal na safra 2008/09, para 50,8 milhões de toneladas. Mas o tombo pode ser ainda maior. Até a metade de outubro, apenas 5,7 milhões de toneladas de milho haviam deixado o país, contra 7,7 milhões em igual período do ciclo anterior. Além disso, a queda no preço do petróleo pode fazer com que os EUA destinem menos milho para a produção de etanol neste ano. Se isso acontecer, os norte-americanos terão um excedente exportável maior que o previsto inicialmente, o que complica ainda mais a situação do produtor brasileiro. Por enquanto, o USDA mantém a projeção de incremento de 33% no uso do grão para fabricação do combustível. Os norte-americanos estão em plena colheita do grão, que atinge 30% da área a ser colhida de 32,1 milhões de hectares. A produção é estimada em 310 milhões de toneladas. (LG)

Fonte: Gazeta do Povo, 28 de outubro

 

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