Boas expectativas de redução de custo para safra
8/10/2009 09:27:49



A crise financeira que alavancou os preços dos fertilizantes em 2008 passou e agora estão em queda, diminuindo em até 50% o custo da produção da soja na safra 2009/2010.

Segundo o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), Mauro Osaki, todas as regiões foram beneficiadas com redução no custo de produção da soja, tendo em vista que os valores para se produzir em todas as regiões do Brasil são muito próximos e essa melhora faz com que todo mundo invista na produção da oleaginosa.

“No ano passado, o preço dos fertilizantes era inviável para o produtor, em função do dólar e da crise financeira”, diz o pesquisador. Em Sorriso (MT), o produtor tinha que produzir entre 14 e 15 toneladas de soja para comprar uma tonelada de adubo 001818, o mais utilizado nas plantações, essa elevação estimulou os produtores a fazerem receitas e não aplicar tanto adubo em solo já nutrido, investiram mais em calcário.

A queda do fertilizante foi realmente a mais significativa para a produção e os preços atuais estão extremamente mais baixos. “Só em setembro deste ano, se comparado a agosto, já estão 13% mais baratos e, se relacionado ao ano passado, estão quase 50% mais baratos”, quantifica Mauro e alerta que a ordem é continuar racionalizando o adubo, para que onde não haja necessidade de utilização do químico, não desperdiçar e manter custos menores de produção, apesar de que a região do Mato Grosso, produtores ainda insistem em aplicar grandes quantidades nas plantações.

Ainda segundo análise do pesquisador do CEPEA, em questões climáticas, a safra 2008/2009 foi positiva para o Brasil, principalmente para a região centro oeste que teve o clima a seu favor. Já a região sul foi a que mais sofreu com as geadas e secas vindas da Argentina, o que favoreceu muito a produtividade da região central.

Em balanço sobre o que se espera para esta nova safra nas regiões, Mauro acredita que todos vão ampliar suas áreas produtivas para a soja, apesar de estarem receosos com os preços futuros e faz uma previsão de investimento do que é esperado para a safra 2009/2010 nas principais regiões:

“Na região centro oeste, o planejamento se mantêm normal, pois tudo favorece uma safra boa. No sul, os produtores vão manter seu padrão tecnológico, até mesmo por serem mais conservadores e estão se recuperando das perdas por causa do clima na última safra, esperam uma safra melhor”, comenta.

Para ele, a região do MAPITO (Maranhão, Piauí e Tocantins), principalmente, Maranhão e Piauí, por serem regiões de fronteiras, também sofreram muito com as chuvas e, para se prevenirem contra ferrugem que já devastou parte da safra passada, vão aplicar mais adubo. “É a região que mais demora para conseguir crédito rural, porém, em 2009, vão manter o pacote tecnológico e se preocupam apenas com a safra americana, do real frente ao dólar e sua instabilidade”.

No nordeste, na região de Luis Eduardo Magalhães (BA), produtora de grãos e oleaginosas, os produtores apesar de sofrem com a ferrugem na plantação por causa das chuvas, como o Piauí, tiveram uma boa safra, mas se manterão conservadores, sem muitos abusos no cuidado com as lavouras. “É a região que mais está preocupada com os preços da soja para o ano que vêm e para tal, se manterão cautelosos”.

Para o sudeste, em especial na região do triângulo mineiro, os agricultores tiveram problemas com a última colheita devido ao clima e manterão apenas medidas mais preventivas e de racionalização dos insumos.

Mauro aposta na estabilidade dos preços já pagos pelas sacas de soja para manter os patamares de comercialização em 2010. “O pessoal está cauteloso, com medo dos preços que não são otimistas para o ano que vêm”, comenta e explica que o que mais influenciará os valores pagos serão a taxa de câmbio e os preços internacionais. “A maioria dos contratos já foram fechados em março e junho e quem deixou para negociar agora, sofre com os preços mais baixos, por volta de R$ 19,00”.

Panorama e expectativa da safra para cada região:

SUL

No sul do país a redução do custo de produção girou em torno de 20% a 22% na última safra, sendo que o maior recuo se deu pelo preço dos fertilizantes sólidos e líquidos que acompanharam o reajuste do dólar e o mercado internacional. Já os insumos e defensivos agrícolas mantiveram os preços instáveis com tendência de baixa pelo dólar, segundo o presidente da comissão técnica de grãos da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Paraná (Faep), Ivo Arnt Filho.

A procura por maquinário só passou a ser significativa na região no decorrer do ano de 2009, quando se deu a queda dos preços e facilidade de crédito ao produtor que investiu em tecnologia e modernizou sua produção, pois ainda no começo do ano, os preços sofriam as altas em decorrência da crise.

Para Ivo Arnt, os produtores pretendem elevar sua produção em soja para 2010, apesar de não esperar que o ano seja bom para a oleaginosa que promete muitas quedas no mercado, porém, os fatores principais para essa mudança na área a ser plantada são os bons preços praticados em 2009 para a cultura, a redução no custo da produção e, principalmente, a baixa valorização do milho.

A fim de manter o baixo custo de produção conquistado para a região na safra 2009/2010, o presidente da Faep aconselha que “o melhor é travar o mercado futuro e evitar endividamentos, pois 2010 pode não ser um ano bom para a soja”.

SUDESTE

Com o disparo no preço dos insumos em 2008, o gasto total com a produção chegou a R$ 1.300,00, o que para 2009, é calculado a R$ 750,00, valor que começa a alcançar os patamares de 2007. Se para produzir soja na região sudeste, os produtores calculam uma média de R$ 600,00 por hectare, a safra 2008/2009, chegou a um total entre 40% e 50% a mais sobre esse valor e, para o presidente do sindicato rural de Cândido Mota, João Motta, o que leva o custo a reduzir nesta safra, são os preços dos fertilizantes e petróleo que puxaram os custos para baixo.

Em Cândido Mota (SP), os produtores enfrentam muitos problemas climáticos e baixa produção. Só na safrinha de 2009, obtiveram um prejuízo de 33% e já instauraram um decreto de emergência na região. Existe um endividamento muito grande dos produtores e houve dificuldade de adquirir insumos, portanto, têm uma previsão baixista para a próxima safra.

“É preciso que o Governo olhe e garanta uma colheita para ajudar o produtor a ter menos custos na produção. Agricultura é uma indústria a céu aberto”, lamenta o presidente do sindicato.

Com relação a safra preparada em 2008, os insumos chegam a baixar de 30% a 40%, em valores. O que se pagava em herbicidas e glifosato R$ 12,00, hoje pagam R$ 6,00. Segundo João Motta, “a situação volta a normalidade com esses preços do adubo e glifosato 50% mais baratos”.

Como previsto pelo pesquisador do CEPEA, a perspectiva para os valores a serem pagos pela soja em 2010 não são boas. A região paulista acredita que, como as commodities estão caindo, e se hoje comercializam a saca da oleaginosa a R$ 46,00, para a previsão futura, esse valor deve cair para R$ 30,00 ou R$ 35,00 no ano que vêm.

A semente entra como o produto mais caro na balança econômica da nova safra. Os produtores utilizam sementes transgênicas que impõe melhor aceitação no mercado, mas puxa o custo da produção a subir. “Se a semente transgênica de melhor qualidade custa 50% mais cara, o produtor compensa com a baixa que se deu nos fertilizantes”, explica João Motta.

O baixo custo da produção também estimula a região a aumentar a área de soja a ser plantada. Segundo o presidente do sindicato, a última safra plantada em Assis (SP) foi de uma área total de 127 mil hectares de soja e 16 mil hectares de milho, no entanto, com a crise instaurada desta última cultura, é provável que a área do milho para a safra 2009/2010 seja transferida para aumento da produção de soja.

O conservadorismo e previsão para os preços futuros, faz do conselho do presidente do sindicato rural um alerta para os produtores. “Gastos com adubo e sementes são necessários, porém, é preciso usar herbicidas e inseticidas com cautela” e complementa, “Vamos torcer para que a previsão pessimista dos preços não seja verdadeira e os bancos prorroguem as dívidas, pois a situação climática também não está ajudando o produtor”.

CENTRO OESTE

Na região do Mato Grosso, houve uma pequena melhora nos custos da produção da safra 2009. Basicamente, a redução deu-se pelos fertilizantes que antes era vendido a uma base de R$ 1.100,00 a tonelada e hoje a uma média de R$ 700,00. “Já próspero à safra 2010, pois os preços caíram e ficam mais em conta”, é como comemora Luciano Gonçalves, gerente técnico de grãos da Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato).

Os fertilizantes que representam 23% do custo de produção na safra pode variar nas regiões chegando a uma média de 25%. No passado, representou 30% do custo para a produção. Com as sementes o custo chega a cerca de R$ 200,00 por hectare, nada significativo se comparado aos fertilizantes, e os insumos não fizeram diferença no custo total, como conta o gerente da Famato.

Pesado para o produtor são os gastos com maquinário que na região o produtor demora a ter facilidade ao crédito para compra, bem como o preço do óleo diesel, que no Mato Grosso é o valor mais alto do país, mas não significativo, pois o gasto foi igual ou pouco maior que em 2008.

Luciano aposta em um incremento pequeno no aumento da safra 2009/2010 da soja e, como nas outras regiões do país, esse leve aumento se dará por causa da crise que o milho vem enfrentando e falta de crédito ao produtor.

Para o gerente, a tendência de que os custos se mantenham estáveis e exista maior redução nos valores totais de produção é que um maior número de agricultores possa aderir à agricultura de precisão, tenha maior controle no gerenciamento dos gastos e controle nos desperdícios na lavoura. “Mais profissionalização trará resultados mais positivos para a safra”, acrescenta.

NORDESTE

A queda nos fertilizantes também influenciou uma redução de 15% na safra de soja da região oeste da Bahia, produtora de oleaginosas. “Há um ano, diziam que faltaria adubo, porém, com a crise utilizou-se mais recursos e os preços que estavam altos começaram a baixar. Os defensivos são muito caros na América do Sul”, conta o presidente do sindicato rural de Luis Eduardo Magalhães (BA), Vanir Kölln.

Calcula-se que os custos totais com produção de soja cheguem a R$ 1.100,00 por hectare à vista. Para a nova safra, observa-se que a diminuição mais importante foi no preço dos insumos e do adubo, apesar de ainda estar aquém do que era pago pelo produtor antes da crise financeira, ficando de 15% a 20% mais barato do que o ano passado. O preço das sementes se manteve, com um aumento nada significativo para o total gasto.

O que preocupa no orçamento da safra na região é a mão-de-obra que aumentou em decorrência das muitas leis trabalhistas implantada no campo e os custos com energia e petróleo dos maquinários.

A área a ser plantada na safra 2009/2010 também aumenta em função da falta de comércio do milho.

Segundo Vanir Kölln, a ausência de um seguro agrícola no Brasil prejudica e preocupa muito o produtor rural que fica a mercê dos imprevistos que podem ocorrer durante a safra, mas os aconselha a controlar os produtos utilizados na safra e ficar atento à lavoura para não se endividar, e assim manter custos mais baixos na produção da soja.

NORTE

A safra 2008/2009 na região norte foi colhida em junho deste ano e aumentou 30% em função da crise financeira que teve início em 2008, porém, para a safra 2009/2010 já prevêem uma redução de 20% a 25% nesses custos totais para a soja. Os químicos foram os principais responsáveis pela redução de valores, pois quando se pagava R$ 330,00 por hectare no adubo, hoje pagam R$ 280,00.

Como na região sudeste, a semente pesou no orçamento da safra passando de R$ 120,00 antes pagos, para R$ 150,00 mais royalities, no preço atual.

A previsão de 2008 enganou os produtores. Era esperado um custo total para a safra de R$ 1.450,00 e, no entanto, o gasto total chegou a R$ 1.600,00, portanto, para 2009, calculam um de montante de R$ 1.300,00, sujeito a elevação ou não. Com isso, segundo o diretor do sindicato rural de Paragominas (PA) e presidente do Estado do Pará da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), Michel Cambri, a área da safra de soja a ser plantada pode sim aumentar a produção em função da espera da redução dos custos totais calculados.

Para Michel Cambri, pensando na tendência pessimista dos preços futuros da soja, é esperado que nessa safra de 2010, o produtor busque maior produtividade e cautela.

Fonte: Agronotícias, 7 de outubro

 

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