Área maior faz milho despencar nos EUA
2/4/2007 11:00:15



Estimulados pela forte valorização dos preços do milho por causa da maior produção de etanol, os agricultores americanos devem semear, na safra 2007/08, a maior área plantada com o grão desde a Segunda Guerra Mundial. Conforme a primeira estimativa de intenção de plantio divulgada na sexta-feira pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a área deve ser de 36,6 milhões de hectares, 15% mais que em 2006/07 e acima das expectativas do mercado, que previa 35,6 milhões de hectares.

A previsão fez o milho fechar no limite de queda - US$ 0,20 - na bolsa de Chicago na sexta-feira. O contrato futuro de julho ficou cotado a US$ 3,855 por bushel. Influenciada pelo grão, a soja também despencou, apesar da redução na área de plantio por causa do avanço do milho. Segundo o USDA, a área de soja na safra 2007/08 deve ser de 27,171 milhões de hectares, 11,1% menos que no ciclo anterior. O número surpreendeu os analistas que, em média, projetavam 27,991 milhões.

A retração na área foi incapaz de dar sustentação à soja em Chicago. A reboque do milho, como acontece desde outubro de 2006, os preços tombaram e tendem a registrar novas baixas. Os contratos com vencimento em julho fecharam a US$ 7,78, recuo de 15,25 centavos de dólar por bushel.

O analista Leonardo Sologuren, da Céleres, disse que o mercado não esperava o forte incremento na área de milho e que, a partir de agora, "o clima será o fator crucial" para os preços. Ele acredita que o milho registrou limite de queda em Chicago porque fundos de investimentos aproveitaram para realizar lucros. "Agora o mercado deve se ajustar à nova realidade".

A estimativa de área de milho surpreendeu Peter Goldsmith, diretor na Universidade de Illinois. "A expansão foi muito maior do que o mercado esperava, mesmo com o aumento exponencial do número de usinas de etanol no país", afirmou ao Valor. Ele considera que o número ajudará a reduzir o ritmo de alta nos preços do milho, mas estimulará novas altas na soja.

Paulo Molinari, da Safras&Mercado, ponderou que se trata de intenção de plantio. O dado sobre o plantio efetivo sai em 29 de junho. Em sua avaliação, se o plantio de 36,6 milhões de hectares se concretizar, a safra pode ficar entre 330 milhões e 335 milhões de toneladas. "O clima tem de ser perfeito", reconhece, acrescentando que o mercado deve ficar atento agora ao desenvolvimento do plantio.

Se a produção recorde vingar, disse Molinari, o milho deve cair abaixo US$ 3,00 por bushel. "Com essa produção, é possível atender a demanda de 81 milhões de toneladas para etanol, 55 milhões para exportação e os estoques ficam em 46 milhões de toneladas". Mas Sologuren, que estima produção de 316 milhões de toneladas de milho se a área prevista se confirmar, considera que os estoques dos EUA continuarão baixos. Hoje, estão em 19 milhões de toneladas.

O recuo do preço da soja na sexta, apesar da área menor, levantou uma discussão entre analistas que acreditam que há um limite para que as oscilações do milho atropelem os fundamentos da oleaginosa. O problema é saber qual é esse limite, num momento em que o petróleo, por conta do etanol, passou a ser tão ou mais importante do que o consumo chinês.

"Hoje [sexta-feira], por exemplo, todos esperavam que a soja abrisse em alta em Chicago, e não aconteceu", disse Renato Sayeg, da Tetras Corretora. Ele observou que, com a área divulgada pelo USDA e a produtividade calculada pelo fórum do órgão realizado no início de março, os americanos colherão 74,9 milhões de toneladas em 2007/08, quase 12 milhões a menos que em 2006/07. Mas, se for considerada a mesma produtividade de 2006/07, serão pouco mais de 77 milhões de toneladas. Vale lembrar que os estoques do país - e do mundo - seguem em um dos maiores patamares da história.

O trigo, cuja área de plantio deve aumentar 5% em 2007/08, para 24,4 milhões de hectares, também teve forte queda nas bolsas puxado pelo milho. O contrato de julho fechou a US$ 4,5375, recuo de 21,25 centavos de dólar em Chicago. Em Kansas, julho teve queda de 14,75 centavos, para US$ 4,605.

Mesmo com perda de área de 20% nos EUA, também em detrimento do milho, o algodão fechou em queda em Nova York. O contrato de julho recuou 3 pontos a 55,06 centavos por libra-peso na sexta. Segundo o USDA, os EUA devem plantar 4,9 milhões de hectares na safra 2007/08.

Fonte: Valor on-line, 2 de abril

 

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