Brasil aproveita brecha dos Estados Unidos para exportar milho
25/4/2007 13:30:56



As discussões e iniciativas ligadas à utilização de biocombustíveis, cada vez mais presentes nos encontros envolvendo as cúpulas dos governos de países do continente americano, mexe com os mais variados mercados. Um exemplo é o agronegócio. Neste setor, o Brasil aproveita brecha dos Estados Unidos para bater recordes consecutivos de exportação de milho.

A razão é diretamente ligada ao etanol: no país governado por George W. Bush, o álcool é produzido a partir do milho. Para cobrir o aumento da demanda por etanol em território norte-americano, os Estados Unidos, de longe o maior exportador do grão no mundo, direcionou boa parte da produção para o mercado interno. Assim, o Brasil viu a abertura de vários mercados para exportar milho, o que não acontecia em grande quantidade até pouco tempo.

A mudança no cenário tem resultados imediatos. A Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou neste mês que as exportações de milho cresceram 323% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2006. A evolução nos números do grão vem embalada pelo aumento geral de 20% das exportações brasileiras do agronegócio nestes três primeiros meses na comparação com 2006.

De acordo com João Carlos Garcia, pesquisador da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo, a “brecha” dos Estados Unidos foi aberta no momento ideal para o Brasil, já que o País bateu recordes de produção do grão na última safra. Ele afirma que as previsões apontam para um contínuo crescimento das exportações de milho – cerca de 8 milhões de toneladas devem sair do País neste ano, contra 4 milhões que foram movimentadas em 2006. O crescimento de 100% pode parecer pouco diante dos 323% do primeiro trimestre, mas vale lembrar que atuação brasileira neste setor do comércio exterior foi alavancada já nos últimos meses do ano passado.

Para Garcia, o cenário atual começou a ser desenhado devido à insegurança norte-americana quanto ao seu estoque de milho. “Quando o governo dos Estados Unidos resolveu dar apoio ao programa de biocombustíveis, criou uma grande demanda por milho em curto espaço de tempo, provocando desequilíbrio no mercado deles, que são os maiores produtores, exportadores e também consumidores de milho. Não faltou, mas grande quantidade foi direcionada ao etanol, gerando uma condição de insegurança”.

O mercado mundial de milho, até então, era basicamente alimentado pelo poderio de produção dos Estados Unidos, pela Argentina e, em menor escala, pelo Brasil, com poucas variações de preço. “No resto do mundo”, ele destaca, “ninguém exporta.” No entanto, segundo o pesquisador, os norte-americanos mantiveram as exportações e aumentaram o consumo interno do produto, resultando em um estoque muito pequeno. Como contrapartida, o estoque mundial também ficou pequeno e isso fez com que o preço do milho subisse.

Com o preço mais alto dos últimos anos, o Brasil ganhou terreno no segmento. Isso porque, lembra Garcia, o País já vinha mostrando capacidade de exportar milho desde que o preço do grão subisse e atingisse um determinado valor no mercado internacional. “Com a grande demanda dos Estados Unidos, o preço internacional do milho ultrapassou e muito esse valor, abrindo a possibilidade para o Brasil exportar. O preço internacional dita o valor em todo o mundo. Esse valor chega no País pelos portos e vai sendo transmitido para todas as regiões, inclusive o interior”. O pesquisador ressalta que esse grande viés no comércio exterior viabiliza o escoamento do excedente de produção de milho, fazendo com que o preço interno não caía e prejudique os produtores, além de possibilitar que outros produtos também sejam exportados, como frangos e suínos, animais alimentados à base de milho. “É muito importante que, com a porta aberta para o mercado externo, o Brasil desenvolva sua capacidade interna de consumir milho”.

Logística

Entretanto, se quiser se estabelecer como um grande exportador do grão, o Brasil necessita melhorar sua logística de transportes. Garcia explica que, para movimentar milho, é preciso “ter uma linha logística muito boa, como a dos Estados Unidos, ou a produção estar situada muito próxima do porto, caso da Argentina”. De outra forma, alega o pesquisador, fica muito complicado exportar, já que trata-se de um produto de valor agregado baixo e o custo do transporte afeta diretamente no preço final .

A política do Governo Federal de estabelecer subsídios para a exportação do produto também é fundamental no setor. Garcia diz que as autoridades nacionais têm dado indícios que não deixarão de apoiar, mesmo que o preço externo volte a cair. “Será preciso que o mercado interno esteja equilibrado a um preço não muito baixo, para ajudar produtores locais, nem muito alto, para não inviabilizar a produção de aves e suínos, animais que consomem muito milho”.

Fonte: Porto Gente, 24 de abril

 

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