Milho: 9,5 mi/t de problemas em MT
14/4/2010 09:37:15



O grão que acabou de ser semeado em área recorde, em Mato Grosso, mal se desenvolve nas lavouras e já é capaz de tirar o sono dos produtores ao ponto de mobilizar o segmento meses antes da colheita. O clima ajudou, a área cultivada ampliou e as previsões indicam que a safrinha do milho será, novamente, mais uma supersafra, e isso é sinal de problemas, já que Mato Grosso acaba de colher soja e os armazéns estão no limite com a oleaginosa. “A supersafra do pesadelo”. É assim que os produtores se referem à temporada 2010 do milho.

O grão que nesta safra vai representar em volume cerca de 50% do total da safra da soja – estimada em 18,87 milhões de toneladas – tem no mercado local cotação 60% abaixo do que se paga pela saca da soja. Na prática, enquanto uma custa R$ 26 – em média – a outra obtém cerca de R$ 8. São essas diferenças, aliadas aos volumes remanescentes da safra anterior, é que preocupam o segmento e fazem com que os produtores peçam ao governo federal a imediata realização dos leilões como forma de assegurar um preço mínimo e tão importante quanto a remoção dos estoques.

Além de incrementar em cerca de 1 milhão o volume desta safrinha, como indicam as projeções, há ainda sobras de outros 3,1 milhões de t estocadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em Mato Grosso, que têm de ser movimentadas.

A explicação para a avalanche de milho segue dois argumentos técnicos: a expansão da área cultivada com a soja neste ciclo e a necessidade de realizar a rotação de cultura e, neste caso, para Mato Grosso, o cereal oferta o melhor “casamento”. Somente para safra 09/10, como mostra o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a sojicultura recebeu 502 mil novos hectares (ha) e, considerando a proporção de utilização entre as safras em torno de 1/3, a safrinha de milho cobre 325 mil ha da soja e, com isso, mantém a mesma equivalência, ao cobrir pouco mais de 32% da área da soja.

NA PRÁTICA - No entanto, a safrinha recorde se justifica pelo tamanho da necessidade dos produtores locais. Como explica o diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Carlos Favaro, existem compromissos sociais, econômicos, financeiros e ambientais que têm de ser cumpridos pelo produtor, mesmo sob perspectivas de lucro ou prejuízo. “Precisamos fazer a propriedade funcionar e quitar seus custos. Apenas a safra da soja não é suficiente atualmente para assegurar compromissos básicos, por isso precisamos, financeiramente, de uma segunda safra”. Além disso, como reitera o diretor, os hectares, se ociosos, serão invadidos pelas ervas daninhas e precisamos, ambientalmente falando, promover a rotação de cultura. “Ainda sob o aspecto ambiental, o milho acaba sendo a cultura mais recomendada porque ela pode ser semeada 100% por meio do plantio direto, o que evita agressões ao solo. Fora isso, o milho dilui as despesas das fazendas, impede a queda brusca no ritmo de contratação de mão-de-obra no campo e mantém o superávit da balança comercial ao país”. E completa: “Se hoje a safrinha do milho já corresponde a 50% da safra da soja em volume, imagina-se então que sem a pujança do milho seria 50% a menos de empregos e no Estado. A safrinha, de uma forma maior ou menor, vem ajudando a financiar a nova safra da soja, neste caso, a 10/11”.

Outro ponto destacado pelo diretor – que também é produtor de soja e milho – é que graças à pujança de matérias-primas, como o milho e a soja, é que grandes empresas como Sadia, Perdigão e, mais recentemente, Marfrig, mudam a direção de seus investimentos e focam Mato Grosso. “Se o trabalho do produtor não estivesse à frente de prospecções lucros e prejuízos, nada disso seria realidade. Mato Grosso será nesta safra (09/10) o maior produtor de grãos e fibras do Brasil”.

LEILÕES - Recentemente, a Aprosoja encaminhou documento cobrando agilidade do governo federal na realização dos leilões. “A nossa preocupação é evitar que os problemas de armazenagem que tivemos no ano passado se repitam este ano”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), Glauber Silveira. O objetivo do leilão é regular o mercado e enxugar estoques.

Hoje diretores da Aprosoja/MT retornam a Brasília para pressionar o governo federal a encaminhar as portarias que autorizam a realização dos leilões. O objetivo, segundo o presidente da Aprosoja/MT, é antecipar os certames para o Estado. “O ideal é que sejam realizados ainda em abril. Se os leilões não foram programados imediatamente, teremos caos em Mato Grosso”.

Fonte: Marianna Peres / Diário de Cuiabá


Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
Tel.: (31) 3027-1223
gfviana@cnpms.embrapa.br

 

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