Por conta de São Pedro
13/10/2010 15:10:50



O clima - sempre ele - será o principal fator de incerteza para a safra de grãos 2010/2011, que começa a ser semeada agora.

A principal preocupação do momento entre os especialistas são as ameaças do La Niña. Quando ocorre, esse fenômeno climático no Pacífico, costuma provocar estiagem em janeiro e fevereiro, especialmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País. Nos últimos três meses já choveu menos do que o esperado nessas regiões, o que atrasou o plantio de algumas culturas.

No Mato Grosso, por exemplo, apenas 0,4% da área destinada à soja já foi semeada. Em igual período de 2009, o plantio atingia 5%. Em São Paulo foi plantada 4% da área destinada à cultura do milho ante 15% no mesmo período do no passado.

De olho nesse quadro, o primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado quinta-feira, prevê uma quebra de safra. Aponta colheita avaliada entre 145,72 milhões e 147,93 milhões de toneladas de grãos, o que corresponde a uma redução de 0,6% a 2,1% sobre a safra anterior.

A Conab é, em geral, mais cautelosa ao projetar os resultados a partir dos primeiros levantamentos. A primeira estimativa da safra recorde, de 148,82 milhões de toneladas de grãos, que acabou de ser colhida havia sido de cerca de 140 milhões de toneladas.

Não é certo que o La Niña apronte nos próximos meses. Por conta disso, o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Silvio Porto, avisa que não estão descartados novos recordes de safra, desde que São Pedro ajude e a produtividade média se mantenha. Nesse caso, o Brasil poderá colher entre 150 milhões e 151 milhões de toneladas de grãos.

Essa previsão mais otimista é compartilhada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A CNA indica uma série de fatores positivos que podem estimular o agricultor, como custos de produção de 8% a 10% mais baixos do que no ano passado e a alta dos preços internacionais das commodities agrícolas.

O mercado está especialmente interessante para quem planta algodão, milho e soja. Nos 12 últimos meses, os preços do algodão saltaram 67%. Enquanto isso, as cotações da soja negociada em Chicago subiram 15% e as do milho, 36,8%.

Os analistas do setor apostam em que os preços agrícolas devem se manter em alta nos próximos meses, principalmente em consequência do que vem acontecendo no resto do mundo: quebra de safra de trigo na Rússia, de milho nos Estados Unidos, de algodão no Paquistão e na China.

O levantamento da Conab aponta ainda que a área para o plantio deve alcançar 47,99 milhões de hectares, 1,3% a mais em relação à safra anterior, quando foram cultivados 47,37 milhões de hectares.

Essa expectativa de aumento mexe com outro setor: o de fertilizantes. A estimativa é que o consumo atinja de 23 milhões a 23,5 milhões de toneladas ante as 22 milhões da safra anterior. O diretor da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), David Roquetti, garante que não irá faltar produto no mercado. E se essas previsões se confirmarem, dá para contar com um novo aumento da renda do interior, com impacto sobre toda a economia.

Segue a crise cambial

Como se esperava, a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) terminou em Washington no último fim de semana sem sombra de avanço na área da guerra cambial. A política da China continua sendo o bode expiatório e o FMI se encarregou de calcular o nível aceitável de reservas que os países emergentes poderiam amealhar sem colocar em risco o sistema monetário global.

Fora do foco

Nem a forte desvalorização do yuan (a moeda chinesa) nem o nível de reservas dos emergentes são a causa dos grandes desequilíbrios da economia global. E isso mostra que os países ricos continuam ignorando a verdadeira natureza do problema.

O próximo lance

Agora, o mundo ficará de olho no próximo passo do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Se vier uma nova rodada de afrouxamento quantitativo (recompra de títulos públicos com emissão de moeda), o dólar desabará nos mercados e de todos os lados virá o revide dos demais bancos centrais.

Fonte: Estadão


Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
Tel.: (31) 3027-1223
gfviana@cnpms.embrapa.br

 

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