EUA podem ter mercado extra de 24 bilhões de litros de etanol por ano
20/10/2010 13:58:34



A elevação da mistura do etanol na gasolina utilizada nos Estados Unidos de 10% para 15%, aprovada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, da sigla em inglês), é um claro sinal dado pela agência de que a indústria de etanol de milho já está madura o suficiente para a competição no mercado. A afirmação é do representante da União da Indústria de cana-de-açúcar (Unica) na América do Norte, Joel Velasco.

Para Velasco, o aumento da mistura em um momento em que os preços do milho estão historicamente elevados e tanto a safra norte-americana como a brasileira podem registrar perdas em função de clima adverso, pode levar o Congresso norte-americano a não renovar os subsídios e a tarifa de importação de etanol existentes hoje e que limita a importação do produto. Nos Estados Unidos, o etanol é produzido a partir do milho.

"Esta decisão abre a perspectiva de abertura de um mercado adicional para etanol nos Estados Unidos de 24 bilhões de litros por ano, considerando a base atual de veículos", afirma o economista Plínio Nastari, presidente da Datagro Consultoria. Segundo ele, a medida é importante para os produtores de etanol de todo o mundo em função de criar a perspectiva do mercado dos Estados Unidos continuar crescendo.

O presidente do Grupo São Martinho, Fábio Venturelli, afirma que a medida é positiva à medida que aumenta o mercado consumidor do etanol no mundo. "Qualquer ação que eleve o consumo mundial é importante para a criação de um mercado internacional do produto e assegurar uma demanda fixa", disse. Venturelli afirma também que o modo gradual em que o E15 será implementado, em fases, é positivo para que os produtores, principalmente os brasileiros, estudem com cautela sua estratégia para participar deste mercado que se amplia.

O aumento da demanda por etanol neste cenário pode fazer com que os Estados Unidos precisem importar o produto no médio prazo. Em um primeiro momento, a medida poderá até servir para escoar parte da produção de etanol de milho dos Estados Unidos e também acabar com a dependência de subsídios do setor. Mas no curto prazo, com o preço do milho elevado, poderá haver até uma consolidação maior. "Poucas empresas poderão produzir etanol com o preço do milho a US$ 6 por bushel", disse Velasco.

O executivo ressalta, contudo, que esta medida não deverá ter um impacto imediato nas exportações de etanol do Brasil. "Qualquer importação de etanol do Brasil pelos Estados Unidos irá depender do preço do etanol brasileiro e do etanol de milho dos Estados Unidos e da necessidade do combustível renovável nos Estados Unidos", disse.

Velasco estima também que, embora a medida tenha validade imediata, sua implantação será lenta. "Os postos americanos irão esperar que a EPA libere o E15 também para os carros mais velhos, modelos 2001 a 2006, para que o mercado consumidor seja maior e gere economia de escala", disse. A medida aprovada hoje pela EPA apenas libera o E15 para carros de modelos 2007 até o presente.

Isso significa que a maioria dos 270 milhões de veículos nos EUA ainda estariam limitados à mistura de 10%. Espera-se até dezembro uma decisão da EPA envolvendo automóveis fabricados entre 2001 e 2006. Para veículos anteriores a 2001, o E15 não será autorizado. "Com isso, apenas cerca de um terço da gasolina vendida nos Estados Unidos serão impactados pela medida", disse.

O executivo estima que as petroleiras irão entrar na Justiça norte-americana contra a medida porque eles perderão mercado com o E15. "É comum que este tipo de ação ocorra nos processos regulatórios", disse. Mesmo as produtoras de etanol de milho estão vendo a medida com cautela. A Archer Daniels Midland (ADM), queria que a mistura fosse elevada primeiramente para 12%. Um porta voz da Valero Energy, que também produz etanol de milho nos Estados Unidos, disse às agências internacionais que é difícil imaginar os varejistas vendendo E15 em um primeiro momento. Isto porque seria necessário investimentos consideráveis para a venda do produto. "Tudo isso faz com que o mais provável é que o E15 realmente entre em vigor de modo a afetar o mercado apenas a partir de 2011", diz Velasco.

Fonte: Eduardo Magossi, da Agência Estado


Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
Tel.: (31) 3027-1223
gfviana@cnpms.embrapa.br

 

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