Planos da lavoura americana sugerem mais alta dos preços
18/2/2011 15:09:11



As sementes de uma alta sustentada no preço dos alimentos estão prestes a ser plantadas no Mississippi, no Nebraska e em outros Estados do cinturão agrícola dos Estados Unidos.

Quando os produtores rurais americanos se preparam para plantar a próxima safra, precisam decidir quanto e o que plantar.

Com os preços subindo exponencialmente, do milho ao algodão e à soja, a safra agrícola americana provavelmente terá uma combinação parecida com a do ano passado, em vez de ser concentrada numa única lavoura em forte demanda, uma mudança que deveria derrubar o preço desse produto.

Ocorreram mudanças significativas nas lavouras nos últimos anos, mas os analistas esperam que surjam apenas mudanças mínimas quando o Departamento de Agricultura dos EUA divulgar no mês que vem um relatório acompanhado atentamente sobre as intenções dos produtores rurais para a próxima safra. Há apenas uma área limitada de terras ociosas que pode ser usada para o cultivo, o que coíbe ainda mais a oferta.

Isso pode ajudar a estender a alta das commodities, que já teve um avanço de 92% nos futuros do milho no último ano, alta de 44% na soja, de 69% no trigo e de 162% no algodão.

Como têm a aumentado as preocupações sobre a oferta mundial de alimentos, as decisões na época da semeadura são cruciais. Os EUA respondem por mais de metade das exportações mundiais de milho e cerca de 40% das de soja, de modo que as decisões de seus agricultores repercutem nos preços em todo o mundo.

Mike Sturdivant Jr. planeja dividir a fazenda da família de mais de 4.000 hectares em Glendora, no Mississippi, entre lavouras de milho, soja e algodão, em praticamente a mesma proporção que em 2010.

"Achamos que estamos garantindo uma chance razoável de lucro", disse Sturdivant, que disse esperar começar a plantar no mês que vem. Ele já vendeu boa parte da futura safra, disse, para se beneficiar das altas antecipadas nos preços.

As atitudes de Sturdivant mostram como a alta das commodities está se retroalimentado e como ela pode derrubar os estoques nos próximos meses. Isso significa que encher as despensas mundiais com níveis adequados vai depender de safras melhores que o normal.

"Você precisaria de safras muito robustas, se não recordes, para alcançar isso", disse Alex Bos, analista agrícola do grupo financeiro australiano Macquarie Group Ltd.

Enquanto a alta das commodities agrícolas ganhava impulso nos últimos meses, surgiram esperanças de safras fartas em outras importantes regiões produtoras, como América do Sul e Austrália, que pudessem aliviar a escassez de algumas lavouras e motivar os produtores americanos a aumentar a produção de outras.

Mas as lavouras de muitos países foram prejudicadas pelo mau tempo, o que manteve a alta geral dos preços.

A demanda persistente também ajudou a corroer os estoques mundiais, usados para garantir um suprimento contínuo de alimentos e proteger o mercado de choques.

O estoque atual de milho é igual a 5% da demanda anual, bem abaixo da média dos últimos 15 anos, que foi de 13,6%, segundo dados do governo americano.

Para restaurar os estoques a um nível normal, os produtores americanos teriam de plantar entre 3,2 milhões e 4 milhões de hectares a mais de milho, calcula Joseph Glauber, o economista-chefe do Usda, como é conhecimento o Departamento de Agricultura dos EUA. Recuperar os estoques de soja demandaria entre 1,2 milhão e 1,6 milhão de hectares a mais.

"Obviamente, são mais hectares do que a área de milho e soja que deve ser plantada este ano", disse Glauber num e-mail.

Os produtores agrícolas americanos transferiram nos últimos anos milhões de hectares de uma safra para a outra. Em 2007, eles plantaram 6,2 milhões de hectares a mais de milho que em 2006, uma alta de 19% — às custas da soja e do algodão —, devido à forte demanda por milho para produção de etanol.

As expectativas são mais modestas este ano. O Macquarie prevê que os produtores americanos vão plantar 36,6 milhões de hectares de milho, ante 35,7 milhões ano passado.

Enquanto isso, o Usda, prevê que os produtores americanos vão plantar 37,2 milhões de hectares de milho. O Usda também prevê 31,6 milhões de hectares de soja, praticamente o mesmo do ano passado. Essas estatísticas são independentes da pesquisa com os produtores que será divulgada mês que vem.

Outro obstáculo para a expansão da oferta é a dificuldade de tornar produtivas novas terras. Demora anos para limpar e preparar grandes terrenos fora dos EUA, como na ex-União Soviética e na América do Sul, disse Bos, da Macquarie.

A persistência da alta — o algodão atingiu a cotação mais alta em termos nominais — pode motivar os produtores a modificar suas lavouras quando tomarem as decisões finais, nas próximas semanas. Mas a flexibilidade deles é limitada em muitos casos. Muitos já venderam parte de suas futuras safras para poder tirar proveito da alta dos preços, como fez Sturdivant.

Fonte: The Wall Street Journal.


Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
Tel.: (31) 3027-1223
gfviana@cnpms.embrapa.br

 

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