Inflação de alimentos deve continuar por anos, prevêem economistas
11/3/2011 09:18:54



O mundo está consumindo seus grãos mais rápido do que os agricultores estão conseguindo produzir, drenando estoques e pressionando os preços para os mesmos níveis que alimentaram revoltas nos países pobres há três anos.

O papel dos Estados Unidos em impedir uma escassez mundial de alimentos depende em boa parte das safras dos próximos meses, quando os produtores rurais do país, maior exportador agrícola mundial, colhem trigo, soja e outras lavouras. Esse cenário provavelmente será reforçado amanhã, quando o Departamento de Agricultura dos EUA, o USDA, divulgar sua atualização mensal sobre os mercados agrícolas mundiais.

Os economistas preveem que a produção mundial de trigo vai se recuperar este ano, graças ao fim da seca no Mar Negro. Isso reduziria as exportações americanas de trigo e geraria uma moderação nos preços. Embora os economistas esperem que a cotação dos grãos caia um pouco se as safras mundiais aumentarem este ano, os preços ainda continuariam altos durante anos. E, ainda por cima, qualquer coisa menor que uma safra farta pode causa oscilações severas na cotação.

"O cenário está pronto para problemas sérios se houver desastres climáticos", disse Keith Collins, ex-economista chefe do USDA. "Me parece evidente que aumentou a chance de uma crise alimentar mundial ampla e séria."

Com a expansão das economias dos mercados emergentes, os alimentos estão subindo de acordo com a demanda mundial.

A cotação do trigo está 80% maior que há um ano. A alta dos alimentos foi uma das causas dos protestos de rua que varreram recentemente o Norte da África, onde o trigo é o principal elemento da dieta local. O Egito é o maior importador mundial do cereal. Os governos da Ásia estão usando subsídios e tabelamento para proteger seus cidadãos da inflação.

Nos EUA, os preços dos alimentos no varejo devem subir cerca de 4% este ano, bem mais que em 2010, quando o índice oficial de preços de alimentos subiu 0,8%, o menor ritmo desde 1962. A alta dos alimentos ocorre justamente quando as pessoas também estão tendo que gastar mais com gasolina. A alta do petróleo desencadeada pela turbulência no mundo árabe pode aumentar o custo de produção dos alimentos.

Um vislumbre do que pode acontecer reside no cinturão agrícola dos EUA. A cotação das commodities está subindo, em parte porque os países importadores de alimentos têm poucos outros lugares aos quais recorrer. Os EUA têm 55% do comércio mundial de milho, bem como 44% do mercado de soja, 41% do mercado de algodão e 28% do de trigo.

O índice de preços de produtos agrícolas do USDA para fevereiro, que cobre 48 commodities, foi 24% mais alto que um ano antes.

A China já consome quase um quarto da safra americana de soja, para engordar os porcos e as galinhas cada vez mais consumidos pela sua classe média. As usinas têxteis do país compram quase um terço das exportações americanas de algodão.

Devido à alta da gasolina, bem como exigências do governo americano, cerca de 40% do milho produzido no país está sendo transformado em etanol. Quando a colheita de outono começar, o USDA prevê que os EUA terão milho suficiente para satisfazer o apetite do país por 18 dias. A única vez que o suprimento americano esteve tão escasso foi nos anos 30, quando desastres ecológicos e a Grande Depressão dizimaram a produção das pradarias americanas.

Há muito tempo que os produtores reagem à alta dos preços aumentando a área cultivada e depois gerando excessos que em seguida derrubam os preços. Mas esse ciclo aparentemente está acabando, o que significa que a alta dos alimentos pode persistir muito mais que no passado.

Os fazendeiros continuam produzindo lavouras cada vez maiores. O USDA prevê que os produtores rurais americanos vão aumentar a área plantada com as oito maiores lavouras do país para quase 4 milhões de hectares, uma alta de 4% que é a maior em 15 anos. O USDA prevê que os produtores de milho obterão uma safra recorde de 348 milhões de toneladas no outono do Hemisfério Norte, que começa em setembro.

Mas a demanda por milho está tão alta que mesmo essa expansão de 10% na safra só vai aumentar as reservas do país em meros cinco dias. O resultado disso é que o USDA espera que o preço da safra de milho deste ano que ainda não foi plantada atinja um recorde de US$ 5,60 o bushel (25,4 quilos).

A produção mundial de café bateu recorde ano passado, mas os preços estão subindo porque os estoques estão baixos. A cotação do açúcar é a maior em quase 31 anos, apesar de uma safra recorde ano passado.

A possibilidade de guerra civil na Costa do Marfim, grande exportadora de cacau, impulsionou a cotação para o nível mais alto em 32 anos, apesar da produção recorde do ano passado.

Devido a problemas climáticos ano passado em importantes regiões produtoras de trigo, como Canadá e Rússia, a produção mundial de trigo caiu 5,5%, mas mesmo assim foi a terceira maior safra da história.

"O vigor da demanda aumentou a um ponto que os anos bons não estão enchendo os estoques suficientemente para compensar os anos ruins", disse Keith Flury, analista sênior de commodities do Rabobank, em Londres.

A solução para os produtores rurais é aumentar ainda mais rapidamente a produção. Mas isso é difícil de fazer em potências agrícolas como os EUA, em que os preços das terras aráveis têm subido vertiginosamente e os melhores terrenos já estão ocupados. A maioria das terras do mundo que podem ser aradas se localiza em regiões de clima volátil, como o cinturão de trigo do Mar Negro.

"Acabou a era de sobra [nas safras]", disse Dan Glickman, que foi secretário de Agricultura no governo de Bill Clinton e agora é pesquisador sênior do Centro Bipartidário de Política, um centro de pesquisas de Washington.

Fonte: The Wall Street Journal.


Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
Tel.: (31) 3027-1223
gfviana@cnpms.embrapa.br

 

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