Piracicaba vai ganhar primeira fábrica de pamonhas do País
17/06/2011 16:36:40



Em breve, quem não resistir ao chamado do alto-falante e comprar uma pamonha de Piracicaba, aquela que é “quentinha”, “caseira”, "o puro creme do milho", terá boas chances de levar para casa um produto industrializado. A primeira fábrica brasileira do quitute, na área rural do município, está pronta para fazer 6 mil pamonhas por dia – mais do que toda a produção artesanal estimada da cidade. Porém, antes de colocar as máquinas para funcionar, o Centro Rural de Tanquinho quer recursos da Prefeitura para construir um restaurante e uma loja no local, para também vender o doce.

“Nossa ideia é criar um polo turístico”, diz José Albertino Bendassolli, o “Bertinho”, diretor do Centro. “Não queremos produzir aqui para serem vendidas em outro lugar”. A fábrica tem 500 m2 e, segundo ele, custou aproximadamente R$ 1 milhão. O dinheiro veio da Secretaria de Agricultura do município, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e do próprio Centro Rural de Tanquinho – uma instituição privada sem fins lucrativos, que atua nas áreas de saúde e esportes. Agora, ele conversa com a Secretaria de Turismo local para tentar convencê-la a colocar dinheiro no restaurante, orçado em mais de R$ 400 mil.

Apesar de ter contado com recursos públicos, a futura fábrica de pamonhas de Piracicaba tenta, há cerca de sete anos, sair do papel. Anunciou que estava pronta outras vezes e Bendassolli não quer arriscar a data em que irá saborear o primeiro doce feito nela. Nesse mesmo período, Wanda Assarisse, a maior pamonheira artesanal da região, equipou sua cozinha com algo próximo a uma fábrica – usando somente capital próprio. Comprou máquinas para separar o milho do sabugo, moer os grãos, misturar o creme e – essa ainda não chegou, mas está encomendada – descascar a espiga automaticamente.

A produção de Wanda começou há 17 anos na estrada entre Piracicaba e Charqueada – e só fez aumentar. Hoje, ela e o marido vendem mais de 4 mil pamonhas por semana, além de 1.800 litros de curau. Têm dez empregados e plantação própria de milho. Distribuem para quase todos os mercados da região e contam com vendedores que levam seus doces até São Paulo e cidades de Minas Gerais. Para ela, a nova fábrica (por coincidência, o negócio de Wanda se chama “Fábrica di Pamonha” – escrito assim mesmo, como em “Zezé di Camargo”) é uma incógnita.

“Difícil saber como vai ser”, diz Wanda. “Torço para que não vire um concorrente, para que traga mais gente para a região atrás de pamonhas”, afirma. “Porque aqui todo mundo já conhece as minhas pamonhas, se você perguntar na prefeitura eles indicam a minha, até se perguntar no Centro Rural de Tanquinho eles indicam aqui”, diz, com o forte erre arrastado da região. “Pode ser que a pamonha deles fique mais padronizada, mas aqui é negócio de família, a gente cuida para usar só milho colhido no dia, faz a pamonha de madrugada pra chegar quentinha no mercado de manhã”, completa.

“Bertinho” afirma que o sabor da pamonha industrializada será o mesmo. Ele ajudou a criar o processo – é pesquisador da ESALQ, a escola de agronomia da USP, com campus em Piracicaba – e agora trabalha para que seja patenteado. “A industrialização diminui o manuseio, mas não muda o gosto ou a textura”, diz. Pelo menos uma das marcas registradas da pamonha de Piracicaba não irá mudar: “ela continuará sendo embalada na palha do milho”, afirma.

“Olha aí, olha aí, freguesia”

Além da inovadora embalagem de palha e da receita sem leite (daí ser “o puro creme do milho verde”), o que deixou as pamonhas da cidade famosas foi o jingle que alardeava a chagada de “pamonhas fresquinhas, pamonhas de Piracicaba”. A fita foi gravada em 1969, época em que a cidade vivia o apogeu da produção, por um comerciante local chamado Dirceu Bigelli. Ele morreu num acidente de carro em 1990. Mas sua voz passou as divisas estaduais e chegou a Minas Gerais e Rio de Janeiro – e até hoje é a gravação predominante entre os vendedores de rua do quitute.

Piracicaba levou a fama, mas praticamente todos os doces vendidos como “pamonha de Piracicaba” na verdade são feitos por municípios vizinhos – como os de Wanda, cuja “fábrica” já fica nos limites de Charqueada. A produção da cidade, em si, é pequena. Mas sua fama foi suficiente para levar 120 mil pessoas para lá durante a última festa do milho, no início de abril. Com uma ponta de resignação, ela diz não se importar com a pequena injustiça geográfica. “A fita ficou famosa... Gravaram como Piracicaba, né? Mas vende a minha pamonha”, afirma. “Se continuar vendendo, acho que tudo bem”.

No município de Três Pontas, sul de Minas Gerais, existe uma fábrica que produz pamonhas de modo industrial desde fevereiro de 1999. "O único processo manual é a confecção das embalagens de palha", explica Elísio Vicentini, proprietário da Pamonharia Três Pontas. A produção, porém, é bem menor que a da futura fábrica de Piracicaba. A empresa mineira faz 1.200 pamonhas por dia, algo proximo à produção artesanal de Wanda Assarisse. O Centro Rural de Tanquinho afirma que irá produzir, através de um processo novo e que está sendo patenteado, cinco vezes mais.

Fonte: IG


Guilherme Viana (MTb / MG 06566 JP)
Jornalista da Embrapa Milho e Sorgo
Tels: (31) 3027-1272 / (31) 9733-4373
gfviana@cnpms.embrapa.br

 

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