Os caminhos da exportação do milho brasileiro
14/02/2013 09:15:33



Rubens Augusto de Miranda e João Carlos Garcia
Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo

Segundo os últimos dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil exportou 3,37 milhões de toneladas no mês de fevereiro de 2013, quantidade 297% superior à obtida em janeiro de 2012. Esse dado indica que a demanda internacional pelo milho brasileiro continua em alta pelo simples fato de que muitos países precisam recompor seus estoques para as adversidades atuais e futuras e pelos problemas enfrentados pelos tradicionais fornecedores de milho no mercado internacional. Apesar das boas perspectivas para a próxima safra de milho nos Estados Unidos, uma nova frustração seria catastrófica.

Um motivo de preocupação é a questão de que o raio pode, sim, cair duas vezes no mesmo lugar, vide o caso argentino. A Argentina, na safra 2011-2012, esperava colher o recorde de 29 milhões de toneladas de milho, mas a seca no verão reduziu a produção para 21 milhões de toneladas. A expectativa inicial para a safra 2012-2013 também era muito boa para o nosso vizinho, no patamar de 27 milhões de toneladas, o que seria recorde. O problema de falta de umidade em um momento crítico de desenvolvimento da cultura, como tem reportado a Bolsa de Cereales da Argentina, reduzirá a safra para 25 milhões de toneladas, segundo algumas previsões. Entretanto, podemos esperar até uma quebra maior, pois analistas argentinos mais pessimistas já colocam a produção no patamar de 20 milhões de toneladas. Do ponto de vista dos produtores brasileiros de milho, essa notícia servirá para fortalecer a sua posição, pois essa diminuição incidirá justamente sobre o excedente exportável de um dos nossos principais concorrentes no mercado internacional de grãos de milho, o que manterá algumas portas abertas em países importadores e auxiliará na manutenção dos altos preços internos. Pois, mesmo com uma grande safra norte-americana, o Brasil continuará ocupando parte do mercado externo do milho argentino.

No caso dos Estados Unidos, a safra colhida em 2012 foi a terceira seguida em que a produtividade agrícola reduziu (em relação à anterior), fato que não havia acontecido anteriormente. As perspectivas são de um aumento na área plantada com milho neste ano. Porém, mesmo com uma produtividade agrícola regular, os estoques neste país estão tão baixos que serão necessárias mais de uma boa safra para que eles voltem a participar como anteriormente do mercado internacional.

De modo geral, as expectativas de exportação brasileira do grão em 2013 são boas. Mas o que queremos discutir aqui é justamente o resultado do ano passado, os 19,78 milhões de toneladas exportados. É fato indiscutível de que esse quantum exportado só foi possível pelas quebras de safras enfrentadas pelos principais países exportadores, principalmente os EUA, e pela safra recorde colhida pelo Brasil, que disponibilizou um grande excedente exportável. Quando o cenário extremamente favorável às vendas externas se delineou, a partir de julho de 2012, discutiu-se a capacidade do país em satisfazer a demanda internacional, dados os antigos problemas de infraestrutura e logística. A história mostrou que o Brasil “superou” esses problemas e exportou quase 20 milhões de toneladas. A pergunta que fica é: como isso foi possível, ou seja, por onde saiu esse milho?

O milho exportado pelo Brasil é escoado principalmente pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), que, juntos, exportaram 13,95 milhões de toneladas ou 70,5% da exportação nacional do grão em 2012, sendo que, nos anos anteriores, esse percentual beirou os 80%. Primeiramente, um ponto importante dessa informação é que somente estes dois portos exportaram 3 milhões de toneladas a mais que o recorde anterior de exportações de milho, os 10,9 milhões de toneladas de 2007. Assim, quem achava que esses portos já estavam no limite de sua capacidade, se enganou. Para entender melhor isso, é preciso analisar a relação das exportações do milho com a soja. Paranaguá e Santos também são dois dos principais portos de saída da soja. Em 2012, 17,35 milhões de toneladas de soja foram para o exterior a partir desses portos, 52% do total nacional. Tradicionalmente, a soja é exportada, principalmente, entre os meses de março e julho; o milho, entre agosto e fevereiro, ocorrendo uma pequena sobreposição. Os meses entre abril e setembro são os de maior volume exportado das duas culturas conjuntamente, com quantidades oscilando entre 4 e 5,8 milhões de toneladas (maio de 2010). Pelo histórico, seria razoável supor certa dificuldade em superar a casa dos 6 milhões de toneladas exportadas dos dois grãos. Acontece que, em maio de 2012, saíram 7,45 milhões de toneladas de soja e milho desses dois portos, mostrando que os tradicionais locais de saída de grãos ainda podem contribuir para o aumento das exportações.

Outra informação relevante é que, apesar do aumento no volume exportado por Santos e Paranaguá, a participação relativa dos mesmos nas exportações brasileiras de milho diminuiu. Isso ocorreu devido ao surgimento de novos caminhos para o escoamento do milho brasileiro. Em 2012, 5,8 milhões de toneladas foram exportadas por portos marginais, quantidade 175% maior que em 2011. Dentre esses portos, merece destaque os 2,4 milhões de toneladas exportadas pelo porto de São Francisco do Sul (SC), um aumento de 458% em relação ao ano anterior. Essa grata surpresa só é diminuída pelo fato de que esse porto já exportou grandes quantidades no passado, como os 1,55 milhões de toneladas escoadas em 2007, mas que nos últimos anos oscilou entre 200 e 700 mil toneladas. O quarto principal porto de exportação de milho foi o de Vitória (ES), que aumentou a quantidade exportada em 143%, totalizando 1,8 milhão de toneladas, o que indica o fortalecimento da rota ferroviária da Vitória-Minas, com suas extensões para o Triângulo Mineiro e para a cidade de Pirapora (MG). Com 483 mil toneladas, o porto de Manaus (AM) manteve a sua média dos anos recentes. O porto de Santarém (PA) teve um aumento de 79% na quantidade exportada em relação a 2011, alcançando 381 mil toneladas, indicando que não somente a soja será beneficiada pelo asfaltamento da Cuiabá-Santarém, mas também a produção de milho da “safrinha” do Mato Grosso. Os portos de São Luís (MA), que pode atender à região do MAPITO (e até partes do Mato Grosso, na bacia do Araguaia, via ferrovia Norte-Sul), e de Ilhéus, na Bahia (que pode atender à região Oeste do estado), exportaram, respectivamente, 360 mil e 218 mil toneladas ano passado. Esses dois últimos merecem destaque porque exportaram apenas 24 mil toneladas (Ilhéus) em 2008 e 37 mil toneladas (São Luís) em 2011. Ou seja, são literalmente novos caminhos.

A experiência das exportações brasileiras de milho em 2012 simplesmente revelou que, apesar das dificuldades logísticas, é possível sim contorná-las, o que nos permite visualizar o potencial das exportações brasileiras no agronegócio em novas regiões produtoras. Se, mesmo com todos os obstáculos que tornam o transporte dos nossos produtos mais custosos, o agronegócio não para de crescer e de se integrar ao comércio internacional, sem as tradicionais dificuldades, o céu é o limite para as exportações agrícolas brasileiras.


Guilherme Viana (MTb / MG 06566 JP)
Jornalista da Embrapa Milho e Sorgo
Tels: (31) 3027-1272 / (31) 9733-4373
gfviana@cnpms.embrapa.br

 

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