Faltam terras para cultivo de silagem de milho no CE
04/03/2013 09:44:00



Procura pelo produto no Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi aumentou. Comprador chega a esperar dez dias

Limoeiro do Norte. Produtores do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi acompanharam, no ano passado, um aumento exagerado da procura por silagem de milho, destinado à alimentação do rebanho. O produto é o mais comercializado naquela área irrigada, chegando a ser vendido para estados como Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. A procura é tanta que caminhões transportadores chegam a esperar por dez dias para receber o produto.

Por conta da procura intensa, a gerência do Perímetro acredita que pode ser necessário um acréscimo no terreno destinado ao plantio. De acordo com Raimundo Santos, há pressa dos irrigantes para que o Departamento Nacional de Obras Contras as Secas (Dnocs) libere a área de 2.700 hectares da segunda etapa para desenvolver a agricultura. "Essa liberação está a cargo do Dnocs juntamente com o Ministério da Integração. O problema é que temos condições de atender toda a procura, temos a infraestrutura completa, mas o que tem faltado, nesse momento, são justamente as terras. Esse projeto está parado há 15 anos e estamos pagando a conta todos os meses", reclama Santos.

Alternativa

A produção de alimentação para o rebanho em perímetros irrigados tem sido a principal alternativa para evitar mais perdas na pecuária. O Perímetro Jaguaribe Apodi intensificou a produção no segundo semestre de 2012 e tem contabilizado números positivos, principalmente para os pequenos irrigantes.

Para os produtores rurais, esse crescimento expressivo na procura por esse tipo de alimento é uma surpresa. João Batista, 41 anos, irrigante há mais de 20 anos, admite que não presenciava há muito tempo uma situação parecida. "Esse ano foi totalmente fora do comum", afirma.

De acordo com o irrigante, no primeiro semestre do ano passado, ele chegava a produzir 200 toneladas de silagem de milho por mês, considerado um volume pequeno pelo produtor. Ele ressalta que, nos últimos meses do ano passado até o momento, o aumento foi exorbitante. "Esse ano, eu já cheguei a tirar 300 toneladas por dia", ressalta. O aumento da sua produção nos 60 hectares de área cultivada somente com silagem se deu em decorrência da falta de comida para o gado no Ceará e em outros estados do Nordeste.

No Jaguaribe Apodi, a produção de 50 a 70 irrigantes está voltada para silagem, em que são colhidas três safras, com a rotação de culturas. Ano passado, foram vendidos 25.704 mil toneladas do produto. Parece um número alto, mas não está sendo suficiente para atender à procura. "Como todo mundo pensou que ia haver inverno esse ano, nós diminuímos a produção de silagem, mas todo dia tem carro para abastecer. Tem carro que chega a esperar de oito a dez dias para carregar", ressalta João Batista.

Segundo o presidente da Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi (Fapija), Raimundo César dos Santos, esta faltando terra para produção da silagem. "Só o Ceará tem consumido 60% da silagem, que é produzida aqui no Perímetro. Já os outros 40% são vendidos para outros estados. O Rio Grande do Norte é o nosso segundo maior consumidor, seguido da Paraíba e Pernambuco. Nós não estamos conseguindo atender a todos, não vendemos mais porque não tem", afirma.

De acordo com dados da Fapija, até dezembro passado, o milho para silagem era cultivado numa área de 662 hectares. Porém, diante da crescente procura estima-se que, este ano, essa área seja ampliada para 730 hectares até novembro próximo.

Só em janeiro deste ano, foram comercializadas quase 18 mil toneladas do produto, com uma média de produção diária de 590 toneladas por dia. "Hoje, os criadores de gado não só do Ceará, mas também de outros estados como o Rio Grande do Norte e a Paraíba, estão vindo diretamente para o perímetro em busca de silagem de milho para o rebanho e, infelizmente, não temos mais áreas para cultivar", lamenta.

Segundo explica Raimundo César dos Santos, o ideal é fazer a rotação de cultura a cada duas colheitas de milho, mas diante da situação, a rotação é feita a cada três colheitas.

Vantagens

De acordo com o corretor Francisco Xavier da Silva, 47 anos, que é encarregado da venda da produção de um irrigante, a palha com milho está sendo vendida a R$ 0,16 o quilo e a palha sem milho sai do perímetro a um preço de R$ 0,10/quilo.

Ele explica que a diferença no preço é por conta da composição da silagem, em que a palha que é triturada com o milho deixa o alimento mais reforçado para alimentação do gado leiteiro. "A gente vende tanto com milho quanto sem milho. Quando a gente vende só a palha, o milho verde é vendido para o comércio. O cento tá custando R$ 28,00", explica.

Xavier ainda destaca que a procura pelo milho começou desde julho do ano passado e que esse ano ainda há o reflexo da estiagem. "Teve período de ficarem 70 carros esperando pela nossa produção", enfatiza.

Quantidade

25 mil toneladas de silagem de milho, destinado à alimentação do rebanho, foram vendidas pelos produtores do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi

Faec quer produção em novas áreas

Limoeiro do Norte. Diante da dificuldade de produtores em adquirir forragem para o rebanho, a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec) propôs, a exemplo do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi, que a produção de forragem seja realizada temporariamente em áreas irrigadas de outras regiões do Estado. O intuito é aumentar a oferta do produto e facilitar a compra de pequenos, médios e grandes produtores.

A proposta da utilização dos perímetros irrigados para produção temporária de forragem foi apresentada pelo presidente da Faec, que também é coordenador do Pacto de Cooperação da Agropecuária (Agropacto), Flávio Saboya, em reunião que foi realizada, no último dia 18 de fevereiro, na Assembleia Legislativa do Ceará.

Segundo a proposta apresentada, serão utilizados 10 mil hectares de área não produzida nos perímetros irrigados de outras regiões, a exemplo do que já vem acontecendo no Perímetro Jaguaribe Apodi, com produção em maiores quantidades, e no Tabuleiro de Russas, com volume menor de produção.

A concessão para utilização seria por tempo determinado, tem o objetivo de auxiliar os produtores diante dos reflexos da seca durante este ano.

De acordo com o vice-presidente da Faec, Paulo Elder, a proposta surgiu diante da dificuldade em se comprar a forragem. "O Rio Grande do Norte se antecipou e comprou parte da produção disponível do Perímetro Jaguaribe Apodi para ser repassado de forma subsidiada aos criadores daquele Estado. Assim, está sendo difícil para os criadores cearenses conseguirem encontrar o produto", explica.

Os pequenos produtores sofrem mais as consequências, devido à dificuldade em pagar o preço do frete. "Nem todos tem condições de comprar uma forragem na Chapada do Apodi para levar ao sertão central, por exemplo", descreveu Elder.

Como balanço negativo da estiagem, o Ceará perdeu 20% do seu rebanho (110 mil animais já morreram por inanição). A alternativa apresentada pela Faec vem demonstrando ser uma alternativa viável e emergencial. "A Proposta da Federação é incentivar a produção de forragem em todos os perímetros do Estado. Produzindo regionalmente, poderemos facilitar a vida do pecuarista e dessa forma aumentar a oferta", explica.

Para isso, é preciso que o Governo do Estado, juntamente com os deputados federais, apresentem a proposta para a presidente Dilma, para que haja a liberação de uso das áreas federais irrigadas. "O Governo Federal entraria com a concessão das terras temporariamente, o Estado entraria com parte dos pivôs centrais para produção e os produtores com a produção da forragem. É uma proposta conjunta e que pode auxiliar muito a crise no setor agropecuário", afirma.

Preocupação

O secretário de Desenvolvimento Agrário, Nelson Martins, disse estar preocupado com a possibilidade de um segundo ano consecutivo de seca que ira trazer mais dificuldades para os criadores alimentar e dar água aos animais no sertão.

Sobre a proposta da Faec para produção de forragem em áreas ociosas dos perímetros irrigados do Dnocs, Martins disse que aguarda uma reunião com a presidente Dilma Rousseff ou a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para discutir o projeto.

"A bancada federal do Ceará está viabilizando o debate dessa ideia. Somos favoráveis à proposta. O governo deverá comprar a produção da forragem e vendê-la aos criadores, semelhante ao processo que ocorre com a modalidade da comercialização de milho pela Conab", conclui.

Mais informações:

Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi Rodovia - LN - 01, Km 12

Chapada do Apodi - Limoeiro do Norte-CE.

Telefone: (88) 3423 - 1386

Mais informações:

Faec - Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará

Endereço: Rua Edite Braga, 50 Jardim América

Telefone: (85) 3535-8000

ELLEN FREITAS

COLABORADORA

Fonte: Diário do Nordeste, 3 de março

 

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