Para produtores, milho resistirá a fundamentos da soja
1/9/2008 08:30:35



Iniciando os preparativos para o plantio da próxima safra, agricultores nos principais Estados agrícolas do Brasil indicam que o cultivo do milho será pouco afetado pelos melhores fundamentos de mercado previstos para a soja em 2008/09, de acordo com avaliação de lideranças do setor.

Além dos preços da soja mostrarem-se mais promissores que os do milho, que concorre em área com a oleaginosa, os custos mais elevados para o plantio do cereal apontam para um ganho menor, segundo analistas.

Mas a importância agronômica da tradicional prática de rotação de cultura - que garante a fertilidade do solo, combate a erosão e ainda ajuda no combate a doenças - e a limitação de sementes da oleaginosa colaboram para o milho pelo menos manter o seu espaço na primeira safra.

"A diferença é que a soja tem mais segurança de preço, e o milho você não sabe o que pode acontecer. Na safra, tem mais risco de o (preço do) milho cair do que a soja", declarou o analista de mercado da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Pedro Arantes.

"Mas também tem a necessidade de rotação de cultura, e eu não acredito que o pessoal arrisque sair do milho para a soja em função da rotação", acrescentou ele, observando que os produtores goianos provavelmente manterão em 2008/09 a área semeada em 2007/08, com 2,18 milhões de hectares para a soja e 630 mil para o milho.

Considerando que o milho exige mais investimento com insumos, Arantes avalia que poderá haver uma redução nas aplicações de fertilizantes, por exemplo.

"O pessoal vai dar uma segurada na adubação, e aí é aquele negócio, se o clima for bom, tudo bem, se não...", completou.

Para o vice-presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Anton Gora, que atua em uma região do Paraná com grande uso de tecnologia agrícola, os produtores "não vão economizar" em adubo, mas "vão racionalizar a tecnologia, usando com mais critério".

De qualquer forma, Gora disse que, considerando os maiores custos com o milho, o agricultor paranaense tentará plantar mais soja, na medida do possível.

"Na soja, os insumos subiram também, mas se usa menos adubo (do que no milho). Acredito que a (área da) soja deve aumentar um pouco, mas não tem como mudar muito o planejamento, porque não tem semente disponível", destacou ele.

O dirigente sindical observou ainda que, diante da atual queda no preço do trigo, o Estado poderá recuperar uma eventual redução na produção de milho no verão plantando mais esse cereal no inverno. "O trigo está despencando, e a área do trigo pode migrar para o milho (em 2009)."

Já o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, avalia que o cultivo de milho, apesar de mais caro, pode ser uma boa opção para os gaúchos.

Ele justificou isso dizendo que, a partir de uma melhora no pacote tecnológico registrado nos últimos anos, o cereal tem maior potencial para ganhar produtividade do que a soja, cujos rendimentos agrícolas estão maximizados.

Melhor cenário

Para a analista da consultoria AgraFNP Jacqueline Bierhals, os fundamentos do mercado de soja apontam para preços melhores em 2008/09 porque os estoques do grão nos Estados Unidos, os maiores produtores globais, estão mais apertados do que os do milho, sem falar do risco de as lavouras americanas serem afetadas por geadas.

Além disso, no campo interno, a oferta de milho deve pressionar os preços, na medida em que as exportações nacionais não decolaram em 2008 como se esperava.

"As exportações não aconteceram. Está bem cheio de milho, e nesse sentido a soja vai ter vantagem", disse ela.

Fonte: Terra, 29 de agosto

 

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