Uma bronca de US$ 7 bilhões
21/6/2010 08:30:55



O rendimento recorde das lavouras de soja e milho não foi o suficiente para arrefecer a revolta dos agricultores argentinos contra o governo. Mesmo ajudados pela fertilidade natural do solo, pela logística privilegiada e, este ano, pela chuva generosa no verão, os produtores do país vizinho reclamam da perda de competitividade no campo pelo imposto às exportações e mecanismos de controle de preços do trigo e milho para garantir o abastecimento interno.

Uma das frentes de batalha entre o campo e a Casa Rosada, a taxação às vendas externas deve render ao governo este ano cerca de US$ 7 bilhões, estima a Federação Agrária Argentina (FAA), calculando uma alíquota média de 30,8% sobre o valor de US$ 22 bilhões de excedentes exportáveis. As “retenciones”, como foi batizada a tarifa, atingem grãos, óleos e farelos.

Além de preços controlados no mercado interno, milho e trigo passam por uma limitação de volumes de exportação como forma de tentar debelar a inflação. A venda externa da soja em grão recebeu ainda a mais alta taxação, de 35%, o que estimularia o cultivo dos outros grãos. Mas os agricutores alegam que o tiro saiu pela culatra. O aumento geral dos preços na Argentina este ano é projetado em pelo menos 25%, e o resultado da intervenção no mercado do milho e do trigo e milho foi uma busca ainda maior pela soja, que não tem as cotações controladas e se mostra rentável mesmo com o imposto.

Um exemplo é o agricultor Gustavo Scaglione, 44 anos, que acabou de colher 385 hectares de soja em Arequito, na Província de Santa Fé, com uma produtividade altíssima de 4,5 toneladas por hectare. Scaglione diz que deixou de cultivar o milho pelo aumento dos custos. Nas últimas duas safras, também não plantou trigo, e este ano decidiu semear apenas 50 hectares. O produtor lamenta deixar de implementar as outras culturas que seriam benéficas, pelo menos, para garantir a conservação do solo das imensidões planas da região conhecida como pampa úmido.

– Não posso investir em algo que não sei por quanto posso vender – diz Scaglione, que situa o momento como o segundo pior da história argentina para a agricultura, atrás da época da paridade cambial da era Menen.

Um dos maiores agricultores da região, Gabriel Bearzotti, 44 anos, cultiva 12,5 mil hectares em Santa Fé, Buenos Aires e Córdoba e enfrenta dilemas semelhantes.

– No trigo, há pouca margem. Planto para fazer rotação de cultura. Os custos sobem, mas os preços, não. Estamos resistindo porque em algum momento isso tem de mudar – confia.

Bearzotti costuma vender antecipadamente parte do trigo como estratégia de proteção para pelo menos cobrir os custos e não ser surpreendido pela insegurança de ter de esperar o governo abrir janelas de exportação.

– A limitação dos volumes de exportação está criando uma monocultura – diz Christian Lancestremere, presidente da Associação de Fábricas Argentinas de Tratores e e gerente comercial da Case IH no país vizinho.

Fonte: Zero Hora / Repórter Caio Cigana


Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
Tel.: (31) 3027-1223
gfviana@cnpms.embrapa.br

 

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